A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

47 Ana Carolina Einsfeld Mattos, Priscila dos Santos Góes e Vanessa Ruffatto Gregoviski Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais Terapêuticos e Hospitais-dia, ainda se fazem insuficientes e se encontram mal distribuídos geograficamente, existindo muitos municípios brasileiros que não possuem qualquer dessas estruturas. Por essas razões, a rede de serviços de saúde mental ainda não consegue ser plenamente resolutiva e articulada. (FRAGA; SOUZA; BRAGA, 2006). Propõe-se a noção de estratégia de reorganização do modelo de atenção à saúde no SUS como imagem-objetivo presente em ambos os modelos, sendo que a saúde mental teria vislumbrado o CAPS como um dispositivo estratégico na atual conjuntura para a progressiva desinstitucionalização dos portadores de transtornos mentais. O Programa Saúde na Família (atuais Estratégias de Saúde da Família – ESFs), por sua vez, serviria como importante articulador da rede de saúde mental, no intuito de superar o modelo hospitalocêntrico, centrar o cuidado na família, e não no indivíduo doente, trabalhar com os conceitos de vigilância à saúde e no enfoque sobre o risco, desenvolver atividades que incluam a prevenção e a promoção da saúde mental e, politizando as ações de saúde de modo a lidar com os determinantes sociais do adoecimento, realizar práticas intersetoriais e desenvolver o exercício da cidadania e os mecanismos de empoderamento (TENÓRIO, 2001; PAIM, 2001). A respeito da Política de Saúde Mental que norteia a Reforma Psiquiátrica nos dias de hoje, destaca-se que estimula práticas pautadas no território e articuladas em uma rede ampliada de serviços de saúde. Contudo, a lacuna ainda parece ser grande entre o que essas diretrizes propõem e o que se observa na realidade concreta (NUNES et al., 2007). Já em relação ao financiamento das ações de saúde mental, ainda permanecem em aberto questões importantes, principalmente relacionadas à cobertura de iniciativas que ampliem e deem maior resolutividade à atenção primária. Há também dificuldades no que diz respeito a ações que demandam intersetorialidade (FRAGA; SOUZA; BRAGA, 2006). Não há precedente de implantação de uma reforma deste tipo num país com as características geográficas, políticas e sociais do Brasil. A construção de um sistema assistencial, um imaginário cultural e uma rede de laços sociais inspirados nos ideais da Reforma exigem que a imaginação, a criatividade e a reflexão crítica encontrem uma maneira de delinear com clareza quais são os desafios específicos que este horizonte de transformação enfrenta nas condições de nosso país (BEZERRA JR., 2007).

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