A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

46 Capítulo II – Modelo de cuidado em saúde mental e a utopia da sua legitimação tela devem priorizar o diálogo com a população, ampliando a escuta para o território mais vasto, saindo das linhas de ação apenas empreendidas pelos trabalhadores especializados. Finalmente, a concepção dos efeitos terapêuticos e éticos superaria a visão de uma terapêutica voltada apenas para a remoção de sintomas, a adaptação à realidade e a supressão de carências. Esta se fundamentaria em uma ética que valorizasse os aspectos subjetivos, além daqueles sociais e políticos da existência dos usuários (NUNES et al., 2007). O discurso da medicina, via de regra, apoia suas observações e formulações, exclusivamente, a partir da perspectiva do modelo biomédico. Este modelo reflete o referencial técnico-instrumental das biociências e exclui o contexto psicossocial dos significados. Uma efetividade mais abrangente da prática depende desta compreensão (DE MARCO, 2006). Contudo, mesmo sendo o modelo psicossocial aquele que queremos que seja seguido, percebemos limitações quando posto em prática, e nos deparamos com o modelo biomédico no nosso meio. Lutar contra a forma hegemônica pautada na patologização e anestesia dos sofrimentos psíquicos não é uma tarefa simples de ser superada, percebemos limitações na efetivação desse modelo por uma luta de poderes evidentes, em que as forças políticas e econômicas que abastecem um saber médico ganham força conforme retrocessos ocorrem, deixando de considerar o sujeito como ser integral, dotado e perpassado por diversos ambientes que o constituem e são constituídos por ele. Assim, buscamos a utopia e acreditamos na constituição efetiva deste olhar, pautado na integralização dos sujeitos pelo modelo biopsicossocial. Os entraves desse caminho utópico O cuidado em saúde mental pode ser considerado utópico, ainda mais quando nos deparamos com tantos entraves diante desta legitimação de cuidado. Desinstitucionalizar, desencapsular ou ampliar as redes de atenção é potente quando falamos de inclusão social, de humanização, do não moralismo e não julgamento, da universalidade, da equidade, da integralidade do cuidado, e do território. Afinal, quando falamos em saúde mental no SUS, falamos de algo que está na rua e deve ser feito COM os sujeitos, não PARA eles! É um fato que a atenção primária no setor de saúde mental ainda se coloca de modo tímido, prevalecendo ações nas práticas secundárias e terciárias (serviços especializados e hospitalares). Por sua vez, os serviços especializados em saúde mental – tal como os Centros de Atenção

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