A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

44 Capítulo II – Modelo de cuidado em saúde mental e a utopia da sua legitimação de Mental, quando foram traçadas estratégias para processar modificações na legislação psiquiátrica, sanitária, trabalhista, civil e penal. Ainda, nessa mesma conferência, foram definidos os pontos principais do novo modelo de assistência à saúde mental, aperfeiçoado em momentos posteriores (FRAGA; SOUZA; BRAGA, 2006). Essas modificações dariam suporte ao novo enfoque de cidadania que neste capítulo dispomos como uma utopia possível. Com a virada do século, a Reforma Psiquiátrica no Brasil deixou definitivamente a posição de proposta alternativa e se consolidou como o marco fundamental da política de assistência à saúde mental. Mais do que isso, a influência do seu ideário vem se expandindo no campo social, no universo jurídico e nos meios universitários que formam os profissionais de saúde (BEZERRA JR., 2007). A formação dos profissionais de saúde desempenha um papel fundamental de fortalecimento dessa mudança, pois, visto as tantas condições (des)humanas do passado, acreditamos que resistir aos retrocessos atuais se caracteriza como uma posição não somente potente mas necessária. A substituição progressiva do modelo hospitalocêntrico e manicomial de características excludentes, opressivas e reducionistas, dão lugar a um sistema de assistência orientado pelos princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, o trabalho passa a ser pautado na universalidade, na equidade e na integralidade do sujeito; o alcance dessa nova conduta ultrapassa os limites das práticas de saúde e atinge o imaginário social e as formas culturalmente validadas de compreensão da loucura (BEZERRA JR., 2007). Visto o exposto acima, neste capítulo será abordado não só a mudança de prestação de cuidado em saúde mental trazida pela Reforma Psiquiátrica, mas também as diversas resistências impostas em todo o processo de mudança de paradigma. Falar do novo modelo não unifica a forma de cuidado, assim como falar de saúde mental na atualidade não se limita à (des)institucionalização. O modelo biomédico e o modelo psicossocial Ao pensar em Reforma Psiquiátrica, pode-se relacionar a esfera clínica com alguns desafios no processo de humanização e de cuidado em saúde mental, onde é preciso avançar na elaboração de dispositivos teóricos e de formas de ação que ao mesmo tempo retenham a linha fundamental da clínica (a ampliação da capacidade normativa psíquica, existencial e social do sujeito) e amplie o alcance da rede (a constituição de uma clínica ampliada, a incorporação de várias categorias profissio-

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