A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

12 Prefácio – Uma nova década instiga resistência Nacional de Saúde Mental; trinta anos do marco legal que institui o Sistema Único de Saúde; 28 anos da Declaração de Caracas e dezenove anos da promulgação da lei da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Nestes anos todos, muitos avanços são percebidos no cotidiano do SUS, como a atenção à saúde se ramificando nos diferentes municípios e a realidade do acesso a populações antes apartadas de quaisquer cuidado. Contudo, percebemos nitidamente o sofrimento do trabalhador, agente responsável pela execução do cuidado em saúde em tempos e situações adversas, bem como vivemos um momento em que a Emenda Constitucional 95/2016, que congela vinte anos de gastos em saúde, recém começa a mostrar seu potencial destrutivo nos muitos serviços que já se apresentavam sucateados pelo subfinanciamento dada a dificuldade de implantação de um teto mínimo de aplicação dos recursos para seu funcionamento, no país o fascismo e intolerância saem do armário e desfilam abertamente nas ruas. A utopia, para os povos latino-americanos, é esse limiar entre luta e resistência ou uma mescla de ambos. Lutar e resistir: lutar para avançar na garantia de direitos e justiça e, ao mesmo tempo, garantir as conquistas ameaçadas, lutando por mantê-las. Neste sentido, este livro condensa a utopia em suas diferentes variáveis. Realizado por um coletivo de residentes do programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, após o percurso de dois anos dedicadas ensino em serviço onde se busca a prática e teoria voltadas a formação para o trabalho no SUS, apresenta a experiência, por vezes árdua, dessa formação e os resultados desse percurso. Com uma carga horária prática e teórica de dedicação exclusiva, com a carga emocional dirigida a esta formação, muitas vezes inseridas em serviços de saúde distantes das boas práticas, tendo em vista a ética profissional como uma questão inegociável e um ideal de um Sistema Único de Saúde que radicalize seus princípios, as autoras demonstram a maturidade e ousadia de quem se lança neste mergulho da residência em saúde e, ao mesmo tempo, revelam a potência deste modelo de formação para o SUS: a qualificação de profissionais onde os princípios do SUS são incorporados na prática e se apresentam articulados entre si e não somente decorados de forma conceitual. Neste sentido, ao percorrer as linhas das produções das residentes, percebemos o lugar de fala de quem viveu esse processo no corpo e o quanto o mesmo fora modificado por ele. Mais uma conquista se evidencia, após tantas lutas pela saúde pública, quando percebemos que são profícuos os resultados de um investimento em formação para o SUS onde os trabalhadores habilitados após a residência, teórico e praticamente, não são tecnocratas e sim, dotados de criticidade, afeto

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