11 PREFÁCIO – UMA NOVA DÉCADA INSTIGA RESISTÊNCIA Rafael Wolski de Oliveira1 Ao adentrarmos em uma nova década, no ano de 2020, um exercício importante se interpõe: avaliarmos a década que passou e projetarmos novos desejos para o futuro. No entanto, no caso do nosso país e da América Latina, esse não é um exercício fácil de se fazer dada a turbulência dos últimos anos em que vimos, em diversos países deste continente, nossas frágeis democracias novamente convalescerem. Talvez, nada novo por aqui. Luta e resistência sempre marcaram nossa história. Tomemos o caso do acesso à educação, ao trabalho justo, à moradia digna, o acesso à água, à alimentação saudável e segura, entre tantas outras demandas que são consideradas como direitos fundamentais para a grande maioria da população. Sempre se apresentaram como pautas imersas em disputas e contradições típicas da relação entre liberalismo econômico e direitos humanos – relação esta característica de nossa era. As conquistas da população nestes campos (ainda insuficientes) foram disputadas duramente, não foram garantidas de forma automática. No marco histórico da saúde pública do Brasil, essas pautas foram marcadas no relatório da VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada no ano de 1986, ano seguinte após o fim da ditadura militar que durou mais de duas décadas por aqui. Ao marcar, sabidamente, que o acesso ou não a estes direitos interferem nos níveis de saúde de uma população, destaca-se duas questões que se interpõem aos trabalhadores dos serviços de saúde: primeira, para trabalhar com saúde é preciso estar atento a estes determinantes e, empenhar-se por eles, junto à população usuária; segunda, fazer saúde pública, de forma equânime e universal é estar imerso em um campo de disputas, lutas e interesses adversos e contraditórios. Nesta virada de década, adentramos no ano em que comemoraremos 42 anos da Conferência de Alma Acta; 34 anos da VIII Conferência 1 Psicólogo, mestre em psicologia social e institucional, professor no curso de graduação em psicologia e do Programa de residência multiprofissional em saúde mental, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS.
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