A saúde mental em evidência: narrativas de um caminho utópico

102 Capítulo VII – Por um controle social que facilite a (des)construção de sentidos para a compreensão da participação implicada no exercício do controle social no contexto da saúde pública. Por quê pensar sobre as nossas implicações? “Como escrever senão sobre aquilo que não se sabe ou que se sabe mal?” (DELEUZE, 2006, p. 18). A análise de implicações propõe pensar os atravessamentos presentes no cotidiano e contratransferências do analista num âmbito institucional (COIMBRA; NASCIMENTO, 2004). Segundo Lourau (1993), a análise de implicações refere-se a um movimento que questiona o lugar do suposto-saber do especialista. A análise de implicações promove uma reflexão em profundidade sobre os efeitos políticos produzidos pelas práticas em saúde, a partir de um lugar ao qual se compreende que a prática produz e é afetada por um efeito político, o percebendo ou não. Efeito político no sentido de refletir o lugar que ocupa e que legitima com o seu fazer. Ao compreender que a análise de implicações se dispõe a refletir sobre o cotidiano, isto pode ser entendido como uma oposição às normas, à medida que questiona o lugar do saber-poder e do especialista (LOURAU, 1993). Ao escutar as forças que permeiam o cotidiano das relações e dos processos de trabalho, identifica-se que “a análise das implicações, tomada enquanto dispositivo, é sempre micropolítica” (COIMBRA; NASCIMENTO, 2008, p. 5). Este dispositivo toma o cotidiano vivo e dinâmico como analisadores dos processos de trabalho, situações espontâneas que colocam questões em análise. A análise de implicações se apresenta como alternativa ao questionamento de “como interferir nesse processo a partir dos espaços que ocupamos, no cotidiano das redes de saúde, inseridas nela. Como resistir? E resistir implica necessariamente habitar esses espaços, movimentá-los, aquecê-los, produzir ‘pequenas revoltas diárias’ ao invés de sonhar com ‘a’ revolução (VEIGA-NETO, 2001 apud VASCONCELOS; MORSCHEL, 2009). Para ampliar a discussão e análise, propomos uma reflexão acerca de alguns fragmentos do cotidiano vivenciados pelas residentes, enquanto ensino em serviço, bem como apresentar outro sentido para o conceito de controle social conforme exposto a seguir.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz