Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta

99 UM JEITO DE SER E VIVER NO KILOMBO DE MÃE PRETA um abraço afetuoso, um sorriso no rosto, ofertando-lhes um cumprimento, o Namastê Odirè (O Deus que há em mim saúda o Deus que há em você para que tu tenhas o melhor dos teus dias no dia de hoje!). As pessoas percorrem a Trilha da Paz, após passar pela fogueira, realizando o seu percurso no interior da mata nativa respirando o ar puro do Kilombo e conhecem os demais re- cantos a seguir. A vivência na Trilha da Paz é realizada em alguns momentos também à noite, trabalhando a confiança, a unidade e a solidariedade dos grupos. Em um Ipádè (círculo sagrado de diálogos), as pessoas conhecem mais sobre a História e a Memória da CoMPaz, conversando com os anciões(ãs) (Yás e Babàs). As vivências na CoMPaz também contemplam um momento de celebração nas refeições, com a irradiação dos alimentos e a ingestão de comida ovolactovegetariana, preparada no fogão a lenha do TemploAlquími- co de Saúde Alimentar (TASA) e de água da fonte do Território. Durante as vivências e imersões realizadas na CoMPaz as pessoas e grupos podem se envolver com o cotidiano, acordando pela manhã, reali- zando as ritualísticas, as preces práticas, dialogando nos Ipádès, buscando uma conexão consigo mesmas e seu propósito original (projeto de vida). Tudo isso significa em alguma medida o que é uma Vivência no Território Kilombola de Mãe Preta. Recordo uma ocasião em que, por orientação de nossos Mestres, es- távamos pesquisando sobre Vacuidade, temática importante da cosmovisão Budista Mahayana. Tínhamos muita dificuldade em compreender os escri- tos sobre vacuidade, pois os originais perderam muito conteúdo na tradução para o português. Foi então que nossa Yashodhan (Anciã do Kilombo) propôs uma Vi- vência, ambientada no pomar da CoMPaz. Sentimos a terra, as árvores, suas raízes, caules, folhas, o frescor do vento, o aroma das flores e nos entrega- mos de corpo e alma para aquele momento. Incorporamos, isto é, trouxe- mos para dentro dos nossos corpos tudo o que havíamos sentido e acabamos percebendo o pomar como um “Ser”, com vida e consciência. Naquele ins- tante nos tornamos um só, uma unidade. Até hoje confesso que tenho alguma dificuldade em conceituar Va- cuidade, mas só lembrar dessa Vivência sinto o que seja Vacuidade: uma integração potente com os vários seres, mundos e reinos. Podemos então perceber que as vivências na perspectiva da CoMPaz são experiências co- letivas que transcendem à realidade exclusivamente material, pois há um componente espiritual que permeia tudo o que acontece (rituais, oficinas, alimentação coletiva, preces práticas). São experiências sociais do cotidia- no, pois as vivências estão imbricadas diretamente dentro dele.

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