Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta

98 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 3 Nosso tempo no Kilombo não é o tempo de Kronos, mas de Yô, divin- dade do tempo para o Povo Bambara da África. Não contamos o tempo pe- los anos que se sucedem, mas pela intensidade do que vivenciamos, o que é revelador para nós mesmos de profundos aprendizados. As vivências em nosso kilombo caracterizam-se além da subjetividade de percepções que provocam em cada um dos irmãos/irmãs, por terem um forte envolvimento coletivo/comunitário e um componente espiritual predominante. O lugar é a base para as nossas vivências e o conjunto de nossas vivências constitui a nossa história e sustenta a nossa territorialidade. As vivências são momentos em que nos possibilitamos experenciar, sentir, perceber, transcendendo padrões lógicos e racionais de pensamento. Podemos então “viver” na mais pura acepção da palavra, sem nos preocu- par com conceitos, preconceitos ou juízos de valor, sentindo-nos plenos e conectados ao nosso real ser e ao cosmos. Segundo Bello (2004), a refle- xão, a percepção, a imaginação, a fantasia e a lembrança podem ser con- sideradas iguais às estruturas de vivências, ressaltando que os conteúdos delas podem variar de indivíduo para indivíduo. Os grupos que vêm à CoMPaz são de muitas procedências: estudantes, professores, artistas, ativistas sociais, membros de pontos de cultura, entre outros(as). Desde a sua chegança no Território são convidados(as) a parti- cipar dos rituais que são praticados pelos moradores(as) para adentrar, pois a CoMPaz é uma comunidade que têm como orientação a espiritualidade. Figura 25: Okan Ilu 2019 na CoMPaz. Acervo CoMPaz. Há um movimento que vai se processando gradativamente para am- bientação das pessoas, desacelerando seus pensamentos, acolhendo-as com

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