Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta

95 UM JEITO DE SER E VIVER NO KILOMBO DE MÃE PRETA tica e visual também são manifestações da nossa territorialidade e integram o nosso patrimônio imaterial. Hoje, passados 17 anos que iniciamos nossa caminhada na CoMPaz, assistimos e ao mesmo tempo protagonizamos um movimento de recons- trução do nosso Território, com a chegança de novos moradores, a constru- ção de uma escola que representa nossa cosmovisão (visão de mundo), a CoMKola, e a consolidação de um processo de identidade e valorização da história e da cultura ancestral do povo negro. A recente aquisição de um terreno vizinho (1,5 hectares), há três anos provocou um reordenamento territorial na CoMPaz. A Terra da Água, como chamamos carinhosamente essa área nova, pois abriga algumas nas- centes, demandou realizarmos um estudo e elaborarmos um novo zonea- mento de ocupação, onde foram definidas as áreas de construção de novas moradias, de plantio e manejo agroflorestal, novas áreas de compostagem, piscicultura. Gradativamente incorporamos a Terra da Água às dinâmicas do Território de Mãe Preta. Temos nossos Ipádès de Estudo e Reflexão sobre nossas práticas e vivências espirituais, que são o Curso Básico e a Desformação. São cursos realizados na CoMPaz em que estudamos e aplicamos conhecimentos/sa- beres sobre a mediunidade e paranormalidade baseados na Cosmovisão da Nação Muzunguê uma vez por mês nesses Ipádès, tendo como participan- tes os próprios moradores(as) e o público externo (no caso da Desformação que acontece de maio a novembro). Seria preciso trabalhar com a desformação do pensamento, segundo nossa Yabá Ancestral Mãe Preta, isto é, tirar o pensamento da forma, para acessar o coração e a mente crística. Por isso, então, esse Curso leva o nome de Desformação. Amanutenção da CoMPaz acontece orientada pela Ekonomia afetiva, uma tecnologia de gestão desenvolvida pelos próprios moradores, onde o zelo e o cuidado com cada um(a) e com o Território são exercitados. Há um caixa único comunitário que faz a gestão dos recur- sos que entram na Comunidade, através de salários, doações, projetos e/ ou prestações de serviços. A alocação desses recursos é dialogada através do Conselho Gestor. Não há salários pagos aos moradores, mas todos são assistidos quanto às suas necessidades de alimentação, vestuário, educa- ção, saúde, lazer e cultura. A ekonomia com a grafia dessa forma, com o k, remete ao ekos ( oikos ), o cuidado com a casa, de origem grega. A atenção e o cuidado com as emoções e os sentimentos de cada um e cada uma também são elementos muito importantes e integram o universo de tomada de decisões nesse campo da ekonomia afetiva, que é uma força feminina, pois carrega em sua essência os princípios do zelo e do cuidado, da guardiania da vida. É algo que permeia as relações que se estabelecem

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