Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta
94 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 3 Hoje encontram-se em vigência o Projeto Sumaúma Raízes Afroindí- genas do Brasil que viabiliza através da parceria com o OLMA a partilha de saberes e viveres com comunidades kilombolas, ribeirinhas, indígenas, povos de terreiro em todo o Brasil, estando já no seu terceiro ano. O ou- tro projeto que nesse momento contribui para as articulações externas é o Omorodê Ponto de Cultura da Infância, em parceria com a Sedac-RS. A CoMPaz, por mais paradoxal que possa parecer, ainda é desconhe- cida de grande parte da população de Triunfo e mesmo de Vendinha, distri- to onde está inserida. Amaior parte do público que participa das suas ativi- dades é proveniente de Porto Alegre e municípios da região metropolitana. A articulação com outros lugares acontece com a ida a outros e aldeias indígenas, participação na Rede RS de Pontos de Cultura, na Rede Nacio- nal de Pontos de Cultura Rurais, Rede de Envolvimento Solidário, Rede Mocambos, entre outros movimentos. As conexões externas trazem ele- mentos, ideias e inspirações que contribuem para “oxigenar” o Território. O lugar tem a necessidade de encontrar seus novos significados. San- tos (1997, p. 252), para isso, utiliza-se da dimensão do cotidiano. Segundo o autor: "este presta-se a um tratamento geográfico do mundo vivido que leve em conta como variáveis os objetos, as ações, a técnica e o tempo". Para Santos (1997), são nos lugares que se desenrolam as paixões hu- manas, a vida social se individualiza, a política se territorializa e ocorrem as manifestações de espontaneidade e criatividade. O cotidiano na comu- nidade é sempre temática de reflexão, estudo e pesquisa contribuindo para a evolução espiritual de cada irmão ou irmã. Muitas orientações espirituais referentes a esta temática já chegaram à CoMPaz. Com a certificação da Fundação Cultural Palmares de autodefinição como Kilombo, a CoMPaz passa a ser um Território, segundo Yashodhan, Sangoma (Guiança Espiritual) da Nação Muzunguê e cofundadora da CoMPaz. Podemos inferir que este lugar se transfigura, pois ao mesmo tempo ele continua sendo um locus de acolhimento, partilhas e vivências, e também passa a ter normas e legislações específicas incidindo sobre si, como a Constituição da República Federativa do Brasil (1988), o que o leva a ser caracterizado também como um território, segundo critério suge- rido por Santos (1997). O Território é a base onde se desenrolam todos os processos ekonômi- co-afetivos da Comunidade Kilombola Morada da Paz. Nesse desenrolar estão inseridas as relações de partilha de saberes, fazeres, o zelo de cada um(a) com o(a) outro(a), as preces práticas, o cuidado com o ambiente e os seres que o compõem, o manejo agroecológico, a produção artesanal, o preparo das refeições, a saúde integral. As formas de expressão oral, artís-
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