Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta
61 UM JEITO DE SER E VIVER NO KILOMBO DE MÃE PRETA investigadora com curiosidade sobre a diferença e a hierarquia poderia perguntar “o que constitui uma diferença na terra yorubá?” (OYERÙMÍ, 2017, p, 288-289, tradução minha) O questionamento da autora sobre a relevância do gênero como um artefato analítico universal me fez pensar, também, em que medida outras formas de experiência, sentido e diferença são produzidas com os próprios termos feminino 3 e masculino , muito além do modo como o pensamento ocidental, sobretudo o feminismo branco, o concebe através do sistema de gênero e sexo. Acredito que a Morada da Paz nos apresenta outras relações. AS QUE FICARAM Assim que a conheci, definia-se como comunidade kilombola femi- nina sustentável e espiritual Morada da Paz. Situada no interior do Rio Grande do Sul, na zona rural, a 60 km da capital gaúcha, é formada majori- tariamente por mulheres negras e seus filhos e filhas. Dedica-se sobretudo a viver a espiritualidade, que na comunidade é chamada de afrobudígena , pois trata-se da articulação de três matrizes centrais, a saber, o budismo tibetano mahayana, as religiões de matriz africana e o xamanismo m'byá- -guarani. Todas e todos os moradores do território consideram-se filhas e filhos de uma preta velha, a Mãe Preta, também chamada de Yabá ances- tral , e de um exu, Exu-Rei, também chamado de Seu Sete. Figura 17: Somos Lindas. Acervo CoMpaz. 3 Aproveito para trazer informações sobre as convenções gráficas adotadas no texto. A pedido das mais velhas da comunidade, todos os nomes serão abreviados. Os termos, expressões e frases elaboradas pela comunidade estarão em itálico, com frases longas postas entre aspas duplas. Conceitos e frases citadas de autores serão postas somente entre aspas duplas. Expressões que eu desejo enfatizar estarão em aspas simples.
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