Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta

52 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 3 com clareza o significado da ekonomia afetiva na cosmovisão da Nação Muzunguê. PEDAGOGIA DO ENCANTAMENTO Há portas que só se abrem pelo lado de dentro Mãe Preta Uma característica importante dos adultos que ali vivem é seu alto grau de escolarização – a grande maioria têm graduação e pós-graduação e continuam estudando – e a valorização da educação, não como um mero instrumento de ascensão social ou para se encaixar nos valores defendi- dos pelo capitalismo e globalização hegemônica, mas como uma forma de acesso ao conhecimento acumulado pela humanidade e direito à memória e história. A educação formal, segundo essa lógica, abre portas que tornam possível o acesso a tecnologias e experiências sociais que podem ajudar na qualidade de vida no kilombo e se contrapor aos ataques de fundamentalis- tas e à criminalização dos terreiros e kilombos. Para além dessa educação formal, defendem um projeto de escola in- tercultural, pautada na diversidade e nos direitos dos homens, mulheres e crianças e para isso batalham por uma educação do campo kilombola, que ofereça alternativas credíveis para permanecerem e fortalecerem a comu- nidade. Como sabem que o nome tem poder, chamam de Pedagogia do Encantamento as práticas educativas que desenvolvem na CoMPaz. Ela se expressa nos processos de Desformação onde estudam e pra- ticam a mediunidade mensalmente. Mas entende-se também a desforma- ção como um processo a partir do qual todo sujeito passa na medida em que aceita viver a espiritualidade nos termos propostos pela Morada da Paz. (...) Desformar é, como Mãe Preta diz, tirar da forma em que fomos formatados, ou aprender a desaprender o modo como fomos ensinados (FLORES, 2018, p. 229). Há também os Encontros Dialógicos , espaços de partilhas com a rede escolar e demais interessados em dialogar sobre uma visão de educação inte- gral e humanizada que é guiada pela cosmovisão afrobudígena da CoMPaz. Os encontros ocorrem uma vez por mês, iniciando em junho e finalizando em novembro. Cada encontro tem uma temática específica que dialoga com os saberes e fazeres da comunidade (YAMORÔ; OPÁ TENONDÉ, 2018). O ponto de cultura da infância Odomodê desenvolve várias ativida- des que envolvem a etnoludicidade que é um termo que Yamorô, uma das Yás, utiliza para designar as brincadeiras tradicionais que vem sendo pes-

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