Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta

48 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 3 também um lugar de passagem, pois assim como há os que vêm, criam vínculos e desenvolvem raízes, há aqueles que se relacionam com o seu universo de uma forma transitória, ou seja, cumprem um tempo que em geral não é preestabelecido e depois seguem o seu caminho. Os moradores e moradoras do kilombo, ao longo do tempo, lutaram para tornar o território um espaço no qual as tradições, a religiosidade e a ancestralidade fossem a base de suas práticas no qual o “bem viver coletivo busca respeitar o direito intrínseco de como cada sujeito se coloca no Ki- lombo” (YASHODHAN; KIEKOW, 2017, p. 18). Na CoMPaz construíram uma leitura holística de vida e de mundo que contempla aspectos materiais e imateriais que permitem uma vivência da espiritualidade e da vida comu- nitária como processo de afirmação da possibilidade de outras formas de existir e resistir e “imaginar outros mundos”, nos termos de Acosta (2016). EKONOMIAAFETIVA A espiritualidade é um caminho sem volta Morada da Paz Na CoMPaz as estratégias de sustentabilidade também passam pelo coletivo e cada um oferece o que pode em termos de dinheiro – há uns poucos que trabalham fora do Território e todos trabalham muito dentro da CoMPaz – e o recurso financeiro é utilizado de forma coletiva e nos ipadês de ecogestão decidem como irão gastar, dando prioridade para as demandas coletivas e, na medida em que é possível, atendem as deman- das individuais. Os recursos que entram provenientes de salários, projetos, doações ou prestação de serviços, são canalizados para o caixa comunitário e a partir daí conforme os encaminhamentos da área de Planejamento e Gestão são alocados para suprir as várias necessidades existentes. Não há salários para os moradores, mas ninguém fica desassistido quanto às suas necessidades básicas (alimentação, vestuário, transporte, educação, mora- dia). Todas as entradas e saídas de caixa são dialogadas e planejadas, pois na CoMPaz tudo está interconectado, isto é, a vida de um é a vida de todos e todas. Esses elementos compõem o que chamamos ekonomia afetiva , que condensa as estratégias de sustentabilidade da CoMPaz. Um aspecto marcante da ekonomia afetiva diz respeito ao seu cará- ter empreendedor que motiva a alocação de recursos como mão de obra, tempo, habilidades na construção de soluções criativas para gerar trabalho e renda em benefício de toda a comunidade. Os recursos extrapolam o di-

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