Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta

47 UM JEITO DE SER E VIVER NO KILOMBO DE MÃE PRETA munitário e priorizar as atividades de cuidado e cura que são identificadas como forças femininas. Figura 10: Bruxas. Acervo Folayian. A organização da comunidade é em uma hierarquia circular , há dife- rentes grupos que dialogam: as Yás e o Baba , as mais velhas e o mais velho da comunidade, fundadores da comunidade e responsáveis pelas principais decisões; as Egbomis , as irmãs mais velhas da comunidade; as Iaôs , as iniciadas mais novas. Há também os Odomodês , os jovens, os Omadês , as crianças e os pitocos, que são as crianças de até cinco anos de idade (FLO- RES, 2018, p. 16). As decisões são tomadas nos Ipadês , círculo de diálo- gos, onde todos, desde os pitocos às Iyás falam e escutam e as entidades protetoras do território indicam caminhos possíveis. ACoMPaz, explica Baogan (2017), é um lugar constituído por muitas identidades, pois é uma comunidade espiritual, um espaço educativo, um Território Kilombola, um Ponto de Cultura que acolhe pessoas. Todas estas dimensões estão conectadas umas as outras, se interpenetram, constituindo uma comum unidade em princípios e propósito. A CoMPaz acaba sendo por excelência da diferença. Atenta para o fato de que há inúmeros povos e seres que o habitam – incluindo ar, sol, árvore, cachorro, homens brancos, mulheres negras, eguns, divindades e outros tantos possíveis de nomear em suas diferenças, outros que não se sabe nomear e outros, ainda, que nem ao menos se sabe da existência. A espiritualidade possibilita que essa heterogeneidade possa se comunicar, através do que é chamado de mediunidade. Essa, por sua vez, pode ser realizada de muitas formas, por conversas, visões, sonhos, sensações, incorporações, intuições, criações, entre outras tantas (FLO- RES, 2018, p. 174).

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