Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta

41 UM JEITO DE SER E VIVER NO KILOMBO DE MÃE PRETA lização contra hegemônica é, por um lado, sua proliferação um pouco por toda a parte enquanto respostas locais a pressões globais – o local é produzido globalmente – e, por outro, as articulações translocais que são possíveis estabelecer entre elas ou entre elas e organizações e movi- mentos transnacionais que partilham ao menos parte dos seus objetivos (SANTOS, 2005b, p. 75). A opção metodológica pela cartografia se justifica porque preferimos deixar que as narrativas já estabelecidas contassem essa história. As subje- tividades individuais e coletivas adquirem um papel relevante nos estudos culturais sobre identidades construídas sob a forma de narrativas (SAN- TOS, 2005, p. 19). Nos propomos, a partir do método cartográfico, enten- der que práticas são desveladas e como se organizam esses novos sujeitos epistêmicos e seu lugar de fala. Essa abordagem pressupõe um novo modo de produzir conhecimentos, necessita de uma racionalidade mais ampla, em que se amplia a diversidade epistemológica do mundo ao credibilizar a experiência social e ao reconhecer que existem infinitas formas de descre- ver, ordenar e classificar o mundo. A cartografia proposta é relevante para entendermos as dinâmicas e experiências sociais da CoMPaz, ao refletirmos sobre a importância dos saberes e fazeres construídos pelos sujeitos que compõem o Território Ki- lombola que garantem uma pedagogia para transmissão de seus conheci- mentos e seu modo de gerar sustentabilidade. Isso é necessário para a sal- vaguarda da memória do jeito de ser e de viver da CoMPaz, inspirado no Bem Viver, o Buen Vivir que por sua vez é inspirado no Sumak Kawsay , de origem kíchwa e que dialoga com o teko porã dos guaranis e na ética da filosofia africana do ubuntu “eu sou porque nós somos” que preza “vi- ver em aprendizado e convivência com a natureza” e “se apresenta como uma oportunidade para construir coletivamente uma nova forma de vida” (ACOSTA, 2016, p. 11-14; p. 23). Ao propormos cartografar e analisar as narrativas produzidas em ter- ritório kilombola, organizando-as em categorias que possam dialogar com outros saberes e fazeres, buscamos ampliar a espacialidade do aprendiza- do, porque entendemos que esse território possui uma identidade – com sua história, valores e simbologias – que permite que os sujeitos que ali vivem desenvolvam estratégias relevantes do ponto de vista cognitivo para superar suas dificuldades e garantir sua sustentabilidade, a partir de expe- riências e tecnologias sociais locais e enraizadas, conectadas em redes de relações. As teorias sobre transformação social atualmente disponíveis não dão conta adequadamente desta novidade, pois os protagonistas destas po- líticas operam em um contexto político ainda pouco estudado e igualmente relevante para que possa servir como fonte de pesquisa para as gerações

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