Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta
38 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 3 guagens que encontra, devore as que lhe parecerem elementos possíveis para a composição das cartografias que se fizerem necessárias. ( ROLNIK, 1989, p. 15-16). Figura 9: Cartografando Sentidos. Acervo Okaran. Desde a antiguidade, o mapa serve para delimitar território, frontei- ras, rotas, referências, reserva de recursos, grupos sociais. A cartografia esteve a serviço da colonização e de processos hegemônicos de dominação a fim de legitimar a conquista de povos e territórios. Na contemporanei- dade, ao incluir os sujeitos que vivem nos territórios para a realização de mapeamentos participativos, surge a cartografia social que pode ser vista ora como esforço de resistência às dinâmicas da globalização, ora como instrumento de apoio à efetivação mesma dessas dinâmicas (ACSELRAD, 2008, p. 10). Para os geógrafos, segundo Rolnik (1989, p. 15), a cartogra- fia é um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movi- mentos de transformação da paisagem. A metodologia adotada, a cartografia subjetiva, nos permitiu enten- der a Comunidade Kilombola Morada da Paz, Território de Mãe Preta, e o modo como ela se organizou coletivamente para participar da pesquisa, em diálogo com características do kilombo: a oralidade, a circularidade, o ensinar pela cultura, tradição e história, o fazer junto, as decisões coletivas no ipadê – que em iorubá significa encontro, união e designa as rodas de conversa na Comunidade. Foi dentro do Território que definimos uma gramática para a pesquisa e as categorias que iríamos privilegiar nessa etapa inicial da pesquisa: a memória dos moradores sobre sua chegada ao Território e como contam essa história, os elementos da cultura e espiritualidade que são incorpora-
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