Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta
25 UM JEITO DE SER E VIVER NO KILOMBO DE MÃE PRETA • proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Ter- ra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida. O tempo tem sido nos- so substrato em relação à realização de nossas atividades (preces práticas), organizamo-nos coletivamente para atender as deman- das internas e expandir nosso caminho tracejado por este jeito de ser e viver que ensina dialogar com a vida através de uma temporalidade muito singular. Levando para outras fronteiras, o que somos e como somos, citamos a Índia, o Nepal, a Bolívia, o Chile, a Portugal, a Bélgica, o Uruguai, o Equador, o Senegal, os diferentes Estados do Brasil. • cuidar da comunidade de vida com compreensão, compaixão e amor (Carta da Terra; ensinamentos indígenas, afrodiaspóricos, budistas, afro-brasileiros) que brotam, depois de um sonho muito acalentado, a Morada Portal: Centro Cultural, Arte, Educação e Cidadania. O surgimento da Morada Portal provocou mudanças viscerais no diá- logo com a vizinhança, as visitas à comunidade, as atividades... Não eram somente as pessoas da vizinhança que mudavam, éramos nós também que ampliávamos uma prática e uma ação até então escondidas e ignoradas. Inicialmente os moradores do entorno do Kilombo-CoMPaz observavam com olhares indiferentes toda aquela movimentação, nenhum deles se dis- punha a participar ativamente do processo. Éramos considerados ainda como estrangeiros tentando encontrar soluções para um povo que vivia há centenas de anos excluído de qualquer sistema político e social. Precisamos aprender o exercício da paciência, da humildade e do ser- viço despido de qualquer traço de colonialismo. Pouco a pouco, fomos aprendendo a construir laços de parceria com o povoado do entorno entre crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Destacamos como estraté- gia fundamental as visitas domiciliares realizadas toda a semana, as quais denominamos de – fazer a ronda na vizinhança – a partir daí fomos nos conhecendo, enamorando e tornando-nos íntimos. Muitas trilhas foram construídas (estudo da realidade e georreferen- ciamento) dos dados com apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desen- volvimento Científico e Tecnológico), pesquisa da memória local inten- tando o resgate de um patrimônio imaterial com a escuta aos moradores mais velhos da localidade, lutas políticas de visibilização da situação de segregação social e econômica da população. O Kilombo-CoMPaz aprendeu ao longo dos anos a discutir de for- ma horizontalizada e em ipádè (círculo sagrado) todas as suas decisões. O autorreconhecimento sempre foi o nosso traço fundamental, e a parti-
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