Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta
131 UM JEITO DE SER E VIVER NO KILOMBO DE MÃE PRETA humano. A pessoa é percebida a partir de sua comunidade de vida e não há sentido em existir em si mesma. Mergulhando em nossas raízes africanas e afrodescendentes consi- deramos que a pessoa é um ser espiritual, é composta pela tríade Ará, Emi e Ori. O Ará é a unidade física(bio) guardiã do espírito(alidade); do Emi: das memórias, dos pensamentos, das emoções, das energias, dos saberes, da mente. O Ará é o veículo em movimento constante, que se produz e se re-produz como agente consciente da comum-unidade. A pessoa é então capaz de sentir, dialogar e manifestar realidades diversas a partir do seu próprio Ará/corpo. É dotada da capacidade de interligar realidades mani- festando e se comunicando com diferentes temporalidades, algo que pode- mos nominar como incorporação, fenômeno mediúnico, onde um humano possibilita que se manifestem outras realidades, humanas ou não humanas, a partir do seu Ará. A pessoa é um canal, um meio de manifestação. E, consciente ou não dessa natureza intrínseca, pode se relacionar com a pe- dra, com a árvore, com o fogo, com a água, com o Orishá. Orishá para CoMPaz é a divindade dos elementos que guardam a me- mória primordial da vida tal como ela é conhecida desde a sua origem. O Emi, mente/alma, guarda a respiração divina que habita em nós e que possibilita a cada pessoa manter a conexão com realidades interdimen- sionais, com diferentes seres e com a sua memória primordial. O Ori é a divindade singular que rege a existência corpórea, marca da identidade da pessoa no universo. O Ará, o aspecto físico, biológico da existência, acumula a memória celular, emocional e energética das experiências familiares, hereditárias, ambientais, sociais, entre outras. Estas memórias são igualmente determi- nantes na manifestação de uma condição de saúde e/ou adoecimento. NASCER E VIVER COMPAZ O cuidado expresso no jeito de ser e viver CoMPaz se inicia quando cada espírito (ser não visível no Ayiè, dimensão terrena da vida), solicita a nossa Yabá Ancestral Mãe Preta a permissão para o seu retorno ao Ayie, na condição de filho ou filha de um dos integrantes moradores do território 23 . Aspectos da história deste espírito estão gravados no seu Emi. Aceito o seu 23 Tal como em diversas tradições espiritualistas e reencarnacionistas, entendemos que o espírito tem consciência do seu retorno ao Ayie, e, em partilha com os grandes Mestres do Universo, em nosso caso Mãe Preta, definem em que momento e com que propósito retornarão ao Ayie.
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