Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta
121 UM JEITO DE SER E VIVER NO KILOMBO DE MÃE PRETA Há as plantas que são consideradas sagradas pelo nosso povo, que são utilizadas nos nossos rituais (arruda, manjericão, guiné, alecrim, alevante, malva cheirosa, entre outras) e processos de cura tradicionais para o povo negro (benzeduras, rezos). O cultivo dessas plantas através do Projeto Oju Ayiê foi potencializado com o desenvolvimento do Sistema Agroecológico Agroflorestal na CoMPaz e isso é muito importante para nós, porque a nossa relação com a terra está intimamente ligada às nossas práticas espi- rituais e às nossas divindades. Realizamos nossas orações para o plantio, irradiamos durante o desenvolvimento das plantas e agradecemos à terra quando da colheita, pois reconhecemos nela uma consciência que nutre a vida. Há verduras que são utilizadas na nossa gastronomia ritualística e, a partir do Projeto Oju Ayiê, foi possível garantir que a sua procedência fosse da CoMPaz, sem necessidade de compras no mercado externo, pois conse- guimos construir uma estufa, semear essas culturas e evitar a incidência do frio e da geada sobre plantas muito sensíveis, como a mostarda, utilizada na preparação de um prato sagrado para o ritual do Terreiro de Chão Ba- tido, que faz parte da nossa agenda anual e ocorre no segundo sábado do mês de junho. Temos também em nossa estufa o Baobá, árvore de origem africana, que é sagrada para o nosso povo e que só pôde ser plantada porque essa es- tufa construída a partir do Projeto Oju Ayiê possibilita a ela um micro-cli- ma tropical favorável ao seu crescimento. Assim esse Projeto contribuiu muito para a salvaguarda deste patrimônio cultural imaterial da CoMPaz que é a sua ecoespiritualidade. O Projeto favorece a salvaguarda desses saberes, na medida em que potencializa o cultivo de espécies que são importantes para a gastronomia e a medicina do nosso povo, para nossos rituais e celebrações. Assim man- temos viva a nossa memória e nossa cultura para que as gerações futuras continuem essa vivência ancestral profundamente conectada com as nossas divindades e com os seres da terra. A CoMPaz se beneficia economizando em compras externas, comer- cializando ou trocando excedentes, consumindo alimentos saudáveis, parti- lhando saberes e viveres e gradativamente melhorando seu nível de sobera- nia e segurança alimentar e nutricional. Também conseguimos aumentar a quantidade de ervas medicinais utilizadas para o preparo de chás, pomadas, banhos e fluídos caseiros. E mantemos e sustentamos a morada de nossos Orisás e Divindades! Esta prática agroecológica é uma prática exitosa de recuperação da ter- ra aliando o uso de saberes agroecológicos ancestrais e contemporâneos. Há um know-how construído pela CoMPaz na sua área de agroecologia, que a coloca como uma referência na sua biorregião nesse tipo de manejo com a
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