Um jeito de ser e viver no kilombo de Mãe Preta
118 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 3 continuidade ao Sistema Agroecológico como uma marca de nosso Jeito de Ser e Viver. A divisão do trabalho se orienta pelo sistema de ciranda (principal- mente entre os mais novos). Na ciranda não há distinção de gênero – é o espaço em que há a possibilidade de aprender o ciclo inteiro do processo no movimento de cirandar, e isto, é muito importante e necessário. A hor- ta é de todos nós, e a origem deste nome se deu pelo movimento próprio em que todos nós precisamos conhecer os processos e saber como zelar e cuidar por cada etapa. Para que melhor seja compreendido destacamos o cirandar do Clã da Terra, composto por oito pessoas, (cinco mulheres e três homens), que se envolve mais diretamente nas atividades agroecoló- gicas, mesclando experiência e juventude. Há os Olùwás (uma mulher e dois homens) que orientam o trabalho. Nesta ciranda há o revezamento de zelo-cuidado, mas todos se envolvem com o processo na sua integridade e totalidade. O cirandar segue o fluxo do ciclonário do preparo da terra, ofertório aos orisás, escolha das culturas, manejo, acompanhamento, colheita, lim- peza, organização, separação do excedente, troca, comercialização, parti- lha, feiras, preparo e transformação. As principais ameaças que enfrentamos para a manutenção do nosso Sistema Agroecológico Agroflorestal kilombola são o uso de agrotóxicos por parte dos vizinhos, que não respeitam a natureza e muitas vezes somos impactados diretamente por suas ações na nossa terra, na água e no ar da CoMPaz. Por conta disso a Comunidade Kilombola pode deixar de existir! As pessoas que frequentam nosso Território (cerca de 250-300 pes- soas bimestralmente) são colocadas em contato com nosso Sistema Agroe- cológico Kilombola. Sempre que adentram o Kilombo são convidadas a realizarem uma das trilhas do território e, deste modo, são conduzidas in- tencionalmente a partilharem de nosso processo de zelo pela natureza. Na sequência são convidadas ao colha e pague, momento em que um morador mais jovem ou Olùwá mostra como o alimento cultivado no kilombo chega à nossa a mesa e à sacola ecológica que ela levará para a sua casa na cida- de. O Plantio Com Vida é uma celebração que acontece, desde 2012, em uma data no mês de setembro, geralmente dia 20, em reverência ao equinó- cio de primavera. O Clã Osúpa reúne-se toda Lua Nova para o preparo de banhos, fluídos, pomadas, chás, unguentos com o uso de ervas fitoterápicas cultivadas, de forma agroecológica, no espaço Arakitembo na CoMPaz, para ofertar aos moradores(as) e às pessoas que vêm ao Território de Mãe Preta. As verduras, frutas e legumes cultivados são utilizados para a pre- paração de pratos típicos da culinária afro-brasileira, que integram a gas-
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