O lugar do saber - Márcia Wayna Kambeba

62 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 1 TERRITÓRIO, IDENTIDADE, MEMÓRIA E CULTURA DOS POVOS DA TERRA Buscar conhecer seu passado histórico, partilhando conhecimentos e saberes, tendo como ensinamento a experiência dos que são a memória viva. Viver a afirmação étnica baseada no reconhecimento de um povo e lutar por reivindicações que contribuam de certa forma para uma coletividade é nisso que consiste a luta, identidade e a cultura dos povos indígenas. O território é o lugar onde se tem uma rede de relações envolvendo saberes: econômico, sociocultural, político e por isso é sagrado. A natureza é mãe e nos alimenta, por isso, há por parte das populações indígenas e dos que vivem às margens dos rios uma preocupação quanto ao tratamento que se está dando a esse recurso preciso a humanidade. Pensar a natureza de forma sustentável é uma prática há séculos executada pelos povos da terra. O fato de mudar a aldeia de lugar era sem dúvida uma forma de fazer com que o solo entrasse em um processo de pousio e a natureza pudesse se renovar. Não produziam lixo em excesso uma vez que sua alimentação era à base de tubérculos, frutas, animais, peixes e o seu lixo era transformado em adubo deixando o solo mais propício ao cultivo de suas plantações ou como se diz no interior “adubado”. Esse solo tempos mais tarde ganhou um novo nome “terra preta de índio”. Pesquisas indicam que esse solo tem um PH equilibrado proporcionando uma boa agricultura e só existe onde há presença de sítio arqueológico. Esse foi o legado deixado a nós pelos primeiros habitantes dessa terra os povos indígenas. Cuidar do solo, da natureza, retirar dela o necessário para a sobrevivência entendendo que o respeito deve ser mútuo. O equilíbrio da terra depende em grande parte de nossas ações e reações, portanto de nosso equilíbrio. Entende-se a partir desse olhar o lugar como um espaço de boas relações entre os povos que em sua sabedoria guardam segredos da natureza e os ensinam aos mais jovens através das narrativas, da oralidade, mesmo que a educação pela escrita seja uma constante na aldeia, ainda assim a transmissão oral é mantida pelos mais velhos. A educação na aldeia não segue os padrões de sala de aula é um aprender sem pressa, na calma e sem tempo de relógio. Ensinar a

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