Tudo está interligado: o rio, a comunidade e a Terra 119 Nessa paisagem, Leonardo Boff22 , fazendo a releitura das modernidades, liberal e socialista, sintetiza que a modernidade liberal criou a sociedade industrial pelo instrumento da democracia liberal representativa cuja centralidade é o mercado e o consumo. A modernidade socialista, por sua vez, excluiu por completo a diferença, acreditando ser a diferença a mesma coisa que as desigualdades e, daí, a luta pela igualdade tão fortemente focada na formalidade que chegou a se olvidar, na mesma medida, da efetividade, reconhecida aqui como formação de uma nova sociedade nutrida pelos valores da participação, solidariedade, diferença e comunhão. Frente a essa realidade de dois projetos que se excluíram, aponta o autor a ideia da reconstrução da sociedade pautada por uma participação que seja capaz de criar práticas; a solidariedade reconhecida como “a capacidade de incluir o outro no seu próprio interesse e entrar no mundo do diferente para fortalecê-lo” 23 , a diferença requerida hoje por muitos grupos sociais, exatamente por isso, apresenta a possibilidade de visualização da comunhão. Aqui vale relembrar o valor comum entre o rio, a comunidade indígena e a comunidade local, a justiça social, reconhecimento que fundou a própria criação dos entes federativos, o município de Paraopeba e São Joaquim de Bicas. Boaventura, 24 em seu estudo sobre os caminhos da democracia participativa, expõe que é preciso democratizar a própria democracia porque assim passa a ser possível a reinvenção da emancipação social. É o que acreditamos e, por essa razão, estamos propondo, como ingrediente da construção dessa emancipação social, o resgate dos instrumentos públicos locais e a repactuação, pela governança local, de gestos e compromissos capazes de trazer à centralidade da comunidade o valor da justiça social. 9.3 INSTRUMENTOS E MECANISMOS DE PARTICIPAÇÃO Os instrumentos que queremos trazer ao debate requerem, em primeiro lugar, recordar a necessidade de compreender o fortalecimento dos fios da rede que interligam o rio e a comunidade indígena aos outros membros da comunidade local. Ocorre que essa compreensão, de imediato, necessita reconhecer os membros dessa rede de relações e, em seguida, conhecer e ocupar os instrumentos locais garantidores do valor comunitário. Conhecer e se reconhecer como membro de uma rede que tem um valor histórico e formalmente comum – a justiça social – requer de cada membro da rede, em primeiro lugar, relembrar os pontos de reciprocidade e complementaridade entre os membros. O primeiro e mais importante é, a meu juízo, a compreensão de que necessitamos um do outro e a nossa sobrevivência depende desta necessidade. 22 BOFF, Leonardo. Ecologia, Mundialização, Espiritualidade . São Paulo: Record, 2008. 23 BOFF, Leonardo. Ecologia, Mundialização, Espiritualidade . São Paulo: Record, 2008, p, 136. 24 SANTOS, Boaventura de Sousa. Democratizar a Democracia : os caminhos da democracia participativa. São Paulo: Civilização Brasileira, 2002.
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