96 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 [...] nosso nativo especial – o cibernauta – como também a própria ideia de um ‘espaço social’ passaram a ser revistos com os diálogos com a Teoria-Ator-Rede e a centralidade que a ideia de rede ou rede sóciotécnica passou a ter em nossos trabalhos, na comunicação emergia a netnografia. Essa forma específica de etnografia praticada na internet era a reafirmação de pontos que para nós precisavam ser superados em favor do desfazimento das fronteiras entre ‘realidade’ e ‘virtualidade’ – ou do ciberespaço como uma externalidade (SEGATA, 2016, p. 109). Vivenciar a capoeira, entretanto, não se circunscreve aos seus movimentos coletivos tão somente. Há experiências dos capoeiristas que interagem com outros suportes de jogos e de modos de vivenciar o jogo como parte de experiência sobre como atuar no mundo. Destaquei experiências em que a capoeira não se projeta apenas como tradição que remete ao vínculo com ancestrais, mas como um saber ancestral que se projeta no presente. A Capoeira joga com a dureza da vida, onde um praticante supera as fronteiras hard da espacialidade através de um dispositivo soft, preparando-se on-line para um jogo duro off-line. As mães quilombolas e a capoeira off-line Para efeito de representatividade do gênero feminino26 e suas experiências com e na capoeira, abordei o efeito presencial da capoeira (off-line) visto pelas mães dos pequenos capoeiristas do Quilombo dos Machado. A capoeira joga com a dureza da vida e, a exemplo de Luciana, se mostra também um potente instrumento no processo educativo de crianças e adolescentes. Em uma tarde de setembro de 2018, Caçapa me aguardava em frente à sua casa, sentado em um banco baixinho e bebendo chimarrão. Recebeu-me com alegria e afirmou: “daqui a pouco passa o pessoal aí e a gente pega eles no ar”. Ele falou que havia trabalhado bastante durante a semana, em que passara confeccionando berimbaus. “É uma maneira de garantir um dinheiro a mais”, diz ele. 26 Barbosa, 2017.
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