A capoeira joga com a dureza da vida

89 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA Em solo porto-alegrense a tecnologia informática floresceu sobre as bases deixadas pela televisão, que começou a ser difundida pelo mundo a partir da metade do século XX. Esse novo invento mesclava as características de dois outros já difundidos: o cinema e o rádio. Do primeiro, vinha a questão audiovisual. Do segundo, a transmissão a partir de ondas eletromagnéticas. Como resultado, a humanidade conheceu o mais poderoso meio de comunicação de massa surgido até então. A relação nesse tipo de comunicação se estabelecia entre ‘um’ e ‘muitos’. Na televisão a situação envolve uma emissora enviando imagens e som através de um canal a uma massa de espectadores (DORNELLES, 2003, p. 243). Segundo Loah do Accara, no início da década de 1990 as vivências com a capoeira eram todas práticas. O local e horário definido para os treinos, a dinâmica de história oral praticada pelo mestre, enfim, sempre acontecia de forma presencial e em grupo. Ele dá ênfase à necessidade de aprender a cultura popular convivendo com o mestre, convivendo com a comunidade, convivendo com o jeito de ser da tradição. Manifestando imenso entusiasmo, ele enfatiza seu engajamento afirmando que “o bom de ser da tradição é ter que aprender na prática, é ter que aprender fazendo”, diz ele. No entanto, ele revela que durante a “caminhada” sentiu a necessidade de procurar as pessoas, de buscar conhecimentos para desenvolver o seu próprio conhecimento. E, com o tempo, surgiu a vontade de viajar para conhecer jogos diferentes. Ele revela o antigo sonho de “subir para Salvador, subir para São Paulo”, onde existem referências do grupo. Lembra que no início da década de 1990 escutavam fitas k7 para treinar capoeira. Nas fitas rolavam as músicas e depoimentos de mestres como Pastinha, Traíra e Caiçara. Mas naquele tempo ele ainda não tivera contato com fotos ou vídeos dos mestres antigos. “Mas a gente exercitava isso no imaginário”, diz ele. Esse relato é confluente com o texto de Eckert e Rocha (2007): “É preciso dispor-se a uma ação imaginante para entrar neste jogo de encaixes narrativos[...]” (2007, p. 20). O repertório contido nas gravações que ouviam durante os treinos era composto pelos cânticos de capoeira interpretados pelos mestres. Além das músicas, Loah acrescenta que os mestres contavam histórias vividas por eles no início do século XX. Falavam das histórias de sofrimento na

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz