81 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA Ao mesmo tempo, salientou que a roda de capoeira nunca havia recebido tantos espectadores da comunidade e que, mesmo não sendo praticantes, a presença de cada um e cada uma é importante para o axé da roda de capoeira. Seu Charles, um homem branco de aproximadamente 50 anos, solicita, em tom alto e áspero de voz, a permissão e atenção de todos para dar início à reunião. Ele relata que o momento é delicado e que a ameaça de desapropriação da comunidade é a cada dia mais grave. Chamou-me a atenção a nomeação “Comunidade 7 de setembro”, sempre usada por Seu Charles ao se referir à área, enquanto outros moradores, em maioria negros, nomearam e se referiam à área enquanto “Quilombo dos Machado”. Seu Charles dava ênfase à necessidade de empenho de cada morador em marcar presença nas reuniões e ações de rua. Não menos importante, e aproveitando a presença do referido, Seu Charles aponta para a contribuição mensal para o pagamento do advogado e outras articulações que geram custos para a garantia de permanência na área. Seu Charles encerrou sua fala pedindo que não seja mais maltratado ao procurar os moradores em suas casas buscando esses recursos ou mesmo para comunicar ações em caráter de urgência. Enquanto isso, a lista de presença passa de mão em mão, quando o líder do quilombo pede a palavra a Seu Charles e pede a valorização coletiva à trajetória iniciada pelos mais velhos. “Os que não estão mais entre nós”, diz ele (PEREIRA, 2019). Jamaica revela que, no momento, o principal inimigo é uma rede multinacional de supermercados que tem uma filial próxima ao quilombo. Representantes da rede vêm praticando tentativas de suborno a agentes do estado e assediando, da mesma forma, alguns quilombolas. Um camburão da polícia passou duas vezes em frente à sede da associação durante a reunião e fez breve parada, causando aflição aos presentes.
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