75 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA Para eles, a gente só presta na hora de pedirem voto. Se pedimos algum serviço institucional, eles nunca atendem, na favela o máximo que eles fazem é mandar os garis raparem uma rua, ou tu tem que sofrer naquele orçamento participativo que, para mim, é um baita crime aquilo lá, para tentar conseguir alguma coisa para a comunidade.21 Esse tipo de relação é bem exemplificado em Agier (2015). [...] No caso das ‘invasões’ que estão na origem das favelas, alguém chegou e ocupou um espaço vago. Em seguida, outra pessoa chegou, declarando ser o proprietário ou ter um direito sobre o espaço e disse: ‘eu te deixo ocupar o espaço com a condição de que a gente entre em um acordo sobre ‘isto e aquilo’, por exemplo: ‘vocês serão minha clientela eleitoral!’[...] Há uma negociação, mas, para que ela exista, é preciso que em um dado momento alguma coisa tenha acontecido, uma comunidade em movimento, pessoas que chegaram e fizeram o gesto político da ocupação (AGIER, 2015, p. 491). O quilombo fica próximo a casas de classe média baixa, mas ainda assim, as casas da maioria da vizinhança apresentam grades em janelas, portas e até cerca elétrica. A comunidade abriga aproximadamente 280 famílias e não está imune à invasão do tráfico de drogas. A situação é de extrema vulnerabilidade social, já que o quilombo está situado entre duas áreas coordenadas por facções rivais. Muitos depoimentos relatam que “já é comum” tiroteios na madrugada. O “toque de recolher” normalmente é a estratégia usada para proteger os trabalhadores e suas famílias. Devido a esse cenário, as abordagens policiais são violentas, os moradores da comunidade são hostilizados pela vizinhança e arredores. “Somos taxados de criminosos porque somos pretos e pobres”, afirma Dona Roberta, de 35 anos, mãe de dois filhos adolescentes. Embora oriundo de uma abordagem a um nicho populacional avesso ao tratado aqui, percebo similar apontamento de causa para o medo da população em Eckert (2007): 21 Entrevista com Jamaica.
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