A capoeira joga com a dureza da vida

74 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 De que(m) você tem medo? Procuro tecer essa reflexão acerca do medo e memória no contexto urbano partindo de uma interlocução com moradores de um quilombo urbano da cidade de Porto Alegre. O líder da comunidade quilombola é enfático ao narrar a busca pelo reconhecimento do Estado quanto ao direito herdado pelos seus ancestrais negros, os antigos moradores da área. Desse modo, os quilombolas apresentam consciência de sua trajetória social e do tempo que, de certa forma, estão submetidos à segregação social devido à sua origem étnica. Baseado no texto de Eckert (2007, p. 61), A cidade com qualidade, me surgiu um questionamento: Aameaça do esquecimento de símbolos significantes e os “novos” constrangimentos que vêm transformando nossas concepções culturais de confiança que reforçam a liberdade de ir e vir se tornariam estáveis ao limitarmos a atuação dos pobres no espaço público? A necessária desconfiança do “outro”, “estranho”, enfim, a condenação prévia dos outsiders enquanto culpados pela violência e decadência dos vínculos no mundo urbano, uma vez que “[...] também em bairros populares, onde moradores e pequenos comerciantes recorriam a grades e cercas elétricas para dificultar roubos e assaltos cada vez mais frequentes” (ECKERT, 2007, p. 62). Assim sendo, fica perceptível a difícil situação social vivida pelos moradores dessas zonas vulneráveis onde se tornam duplamente vítimas: 1. do crime organizado que domina sua área de moradia; 2. da criminalização prévia em julgamento da sociedade devido à sua condição de pobreza. O quilombo urbano situado na zona norte da cidade de Porto Alegre, segundo o líder, é uma das cinco comunidades de quilombo em Porto Alegre que possuem certificado de portaria da Fundação Palmares. É visível a falta de assistência a direitos básicos do serviço público para a população que ali reside. O líder demonstra indignação em seu depoimento, falando que o sistema corrupto quer cada vez mais oprimir os que vivem à margem da sociedade. Querem desapropriá-los do quilombo para construir grandes empreendimentos como apartamentos e derrubar a favela. O líder é enfático quando diz:

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