A capoeira joga com a dureza da vida

69 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA trabalhar com um tipo de pessoas que não estão no perfil, no padrão. A maioria das pessoas quer ter os alunos bonitinhos, fortes, e quando a gente fala sobre pessoas com deficiência, quase todas são dependentes de uma pessoa para acompanhar. Trabalho com pessoas que apresentam deficiências múltiplas. Deficiência intelectual, deficiência física, deficiente visual, deficiente auditivo, síndrome de Down, autista, e todos de alguma forma jogam capoeira. Jogam capoeira, brincam. O nome do projeto é A arte de fazer o bem, porque a gente não faz ideia de até onde a capoeira pode proporcionar felicidade. Porque o sorriso de uma criança, ela não proporciona apenas a felicidade para uma criança, ela proporciona pra nós também. Quando tu vê uma pessoa com deficiência se deslocar pela sala fazendo um ‘caranguejo’, tu fica admirado com a superação, a persistência que, às vezes, nós, ditos normais, não temos. Nos bloqueamos, bah, isso eu não vou conseguir fazer, e não tentamos fazer porque queremos fazer tudo com perfeição. A gente tá vivendo numa geração em que é tudo muito rápido, eles querem tudo muito rápido, então, se não aprendem muito rápido, já não querem mais. Com as pessoas com deficiência a gente aprende a valorizar o tempo de cada um. Enquanto um tá fazendo, os outros já estão prestando atenção, já estão sendo preparados de que eles vão ter que esperar para a coisa acontecer. Então, através do cotidiano, da rotina, a gente vai estabelecendo regras e trabalhando a educação, trabalhando a cidadania, trabalhando a inclusão, e aqui na Casa Verde a gente traz eles pra cá, para, aí sim, acontecer a inclusão na roda com as pessoas do grupo. Todo mundo fica igual jogando capoeira dentro da roda. Se ele vai ali e consegue levantar a perna até

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