68 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 Conheço Jean Sarará há alguns anos e ele é enfático em relação ao respeito aos mais velhos, aos mestres e ao próximo, incondicionalmente. Na Casa Verde, espaço de terapia alternativa em que o Grupo Raízes do Sul desenvolve a Capoeira Angola, ele me conta com bastante seriedade: A ancestralidade, o próprio trabalho de aproximação que a gente percebe dentro da capoeira quando a pessoa chega, ela inicia, começa treinando, quando vê, já chega outro e essa pessoa que recém iniciou, assim, em um mês, ela já tá acolhendo, assim às vezes já tá até dando uma dica, então a capoeira tem uma dinâmica de acolhimento muito legal que trabalha essa inclusão, trabalha a inclusão do indivíduo de ele se sentir alguém dentro daquele grupo.16 Muniz Sodré, em Capoeira e Identidade (1996), fez registro em conformidade com o depoimento de Contramestre Jean Sarará: Para o ‘homem de tradição’, ser não significa simplesmente viver, mas pertencer a uma totalidade, que é o grupo. Cada ser singular perfaz o seu processo de individualização em função dessa pluralidade instituída (o grupo), onde se assentam as bases de sustentação da vida psíquica individual (SODRÉ, 1996). E Jean prossegue: Nós aqui do Raízes temos um trabalho um pouco diferenciado porque em 2004 eu conheci o Mestre Beija-Flor, uma pessoa que saiu de Sergipe andando por vários estados mostrando pros capoeiristas que era possível trabalhar capoeira com pessoas com algum tipo de deficiência ou algum tipo de limitação, alguma síndrome, então, quando ele esteve em Porto Alegre, eu passei a acompanhar, e aqui em Porto Alegre logo ‘escantearam’ ele por 16 Entrevista gravada com o Contramestre Jean Sarará.
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