57 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA Exemplos não faltam para realçar as violências racistas que de antemão negam o acesso a direitos básicos e, até mesmo, revelam-se através de espanto, como no caso da servidora da Justiça do RS, quando eu, um cidadão negro, declarei estar cursando pós- graduação e, após o exposto, ela automaticamente respondeu à sua obrigação de servidora pública, impulsionada pelo meu nível de escolaridade. A cultura negra e a capoeira em tempos de multiculturalismo Um dos temas mais recorrentes na antropologia é a cultura negra e a pesquisa sobre as relações entre cultura negra e cultura erudita, ou entre a cultura nacional e a cultura negra como dinâmicas que são observadas por antropólogos, seja a partir do trabalho de campo com populações periféricas, seja tratando dos discursos e saberes científicos, e o modo como demonstram as conexões entre bens de cultura popular e a cultura negra, alçadas como símbolos nacionais.10 Atualmente, falar sobre a capoeira é não mais pensá-la somente como algo oriundo da cultura negra e como símbolo de resistência cultural negra, mas em sua intensa circulação, enquanto bem cultural da humanidade,11 nas arenas mais variadas de consumo cultural. A Era da Globalização nos convida a refletir acerca da importância de um referencial de identidade enquanto descendentes de alguma nação e/ou território. Conforme Stuart Hall (2003), embora possa estar atribuída a um interesse específico e situacional, a identidade cultural negra supera as fronteiras territoriais e temporais, conectando os sujeitos à sua ancestralidade através da tradição. Os negros no Brasil carregam consigo as marcas da subordinação forçada historicamente pelo regime de escravidão. A “estética diaspórica” subjugou a população negra ao mais baixo nível da pirâmide social. No entanto a hibridização entre a sua herança cultural e 10 Ver Claudia Fonseca (2000) e Rita Segato (2005). 11 Ver Brito (2015).
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