56 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 cos. Uma estudante universitária do curso de Psicologia afirmou passar por momentos de tensão quando alguns colegas brancos a acusam de estar roubando a vaga dos brancos. Além de garantir através de cotas universitárias a presença dos atores sociais negros, observo também a necessidade de haver novas referências epistemológicas. Afinal de contas, sabemos que o etnocentrismo ocidental formulou os padrões dominantes do conhecimento, enfim, a definição dos saberes científicos. Isso, de certa forma, potencializa a hegemonia branca que impede a democratização, na prática, do acesso a instituições públicas. Conforme apontam Paulo Sérgio da Silva, Rita Camisolão e Vera Neusa Lopes no livro Procedimentos Didático-Pedagógicos Aplicáveis em História e Cultura Afro-Brasileira, de 2012: [...] O contexto sociocultural universitário também é lugar de transformação e de mudança coletiva, fazendo com que o conhecimento produzido por meio da pesquisa acadêmica torne-se instrumento daqueles que não tem vez, bem como venha a servir para questionar as relações de poder e dominação. A educação pode combater os valores que representam as estruturas históricas de dominação e os interesses das suas respectivas classes sociais que, tradicionalmente, são transmitidos pela mesma academia (2012, p. 18). As sequelas oriundas do racismo estrutural que, assim como em outras áreas, criou barreiras sólidas ao acesso da população negra ao ensino superior foram determinantes às imposições em massa dessa população ao mais baixo nível da pirâmide social. Os resquícios da escravidão e as estratégias de subalternidade à população negra impostas pelas classes dominantes estão diretamente atreladas ao tortuoso acesso à educação. Essas barreiras estão registradas na história dos países que tiveram como base de formação e sustentação a escravização do povo negro. Angela Davis define: [...] as oportunidades de educação para a população negra, o impacto da experiência da Reconstrução não podia ser totalmente eliminado. O sonho de possuir um pedaço de terra estava por ora destroçado, e a esperança de obter igualdade política esmaeceu. Mas o farol do conhecimento não seria facilmente apagado – e essa era a garantia de que a luta pela terra e pelo poder político continuaria sem trégua (DAVIS, 2016, p. 116).
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