A capoeira joga com a dureza da vida

52 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 mente ligado ao efeito danoso que a discriminação racial sofrida cotidianamente causava à saúde psíquica e corporal. E acrescenta que o desejo de adquirir a casa própria surgiu através do fortalecimento de sua autoestima resultante do trabalho terapêutico que vinha exercendo. As condições físicas e emocionais de Jorge (o paciente) em início do tratamento estão descritas no texto: [...] Em sua procura inicial por atendimento, ele buscava formas de lidar com um processo de intensa ansiedade, fobia de lugares fechados, de ambientes com muitas pessoas e problemas gastrointestinais (alimentava-se pouco, tinha problemas digestivos e eventuais diarréias). Jorge fazia uso de medicação (GUIMARÃES, 2012, p. 226). Conforme descreve Marco Antônio Chagas Guimarães, o terapeuta, o paciente relatara no decorrer do tratamento que em sua vida escolar tinha dificuldades para se manifestar em aula. Durante as aulas da disciplina de história sentia um profundo constrangimento e tristeza quando o tema abordado era a participação social dos negros sempre relacionada à escravidão, ao sofrimento e ao castigo. O paciente relatou que tinha receio em se expor para fazer perguntas e observava que o outro colega negro, eram apenas dois negros na turma, também manifestava receio em participar das aulas. Enfim, introspecção e timidez causadas por um sentimento de inferioridade e falta de acolhimento. Em se tratando de a escola representar um dos primeiros ambientes de socialização, após o ambiente familiar, de um sujeito em sociedade, o autor observa que: [...] este trabalho compreende que vivências positivas decorrentes da elaboração dos paradoxos maturacionais naturais ao desenvolvimento, que ficaram inscritas na subjetividade da criança, se chocam com uma sociocultura racista, à qual falta o elo – um “quantum” de identificação do meio ambiente – para dar a continuidade necessária a esse campo de mediação, instaurando-se uma nova ordem de comunicação baseada numa comunicação paradoxal patogênica (GUIMARÃES, 2012, p. 230). O paradoxo patogênico apresentado no texto alerta para a construção de uma ruptura entre o sentimento de afeto desenvolvido no ambiente nuclear e o estranhamento provocado por um ambiente

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