49 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA Dessa forma, mostra-se extremamente importante uma análise da antropologia das emoções envolvendo os efeitos causados pela hierarquização e discriminação racial no Brasil. Percebo que a popularização da crença de não existência de privilégios sociais relacionados às origens étnicas devido a uma democracia racial, em um país genuinamente mestiço, ou pluriétnico, potencialize o sofrimento de quem cotidianamente sofre com a violência do racismo. Essa distorção ocasionada pela identidade nacional brasileira conduz esse tratamento discriminatório em relação aos negros como uma prática naturalizada. Portanto o indivíduo negro que internalizou esse julgamento simbólico não está imune aos abalos emocionais que resultam dessa interação cotidiana em sociedade. Conforme sinaliza Le Breton, em as paixões ordinárias: [...] A melhor forma de incitar à conformidade com os rituais afetivos depende do questionamento da auto-estima que é propiciada por esses rituais e interiorizada, em princípio, por todo indivíduo como se fosse uma natureza acessória. O julgamento dos outros a uma prevenção eficaz à tentação de derrogar as expectativas comuns (LE BRETON, 2009, p. 14). Enfim, devido a um ajustamento à estrutura social racista, a naturalidade de conviver com as diferentes formas de tratamento devido à origem étnica resulta em não manifestar uma emoção de indignação. Sendo assim, o adoecimento de grande parte da população negra está diretamente ligado a esse problema social. É preciso desvendar o tabu do racismo para que seja praticada uma reeducação dos valores sociais perpetuados, em que se privilegia alguns e marginaliza outros, o que sinaliza para uma imensa contradição perante o regime democrático. De fato, nossa visão de mundo possui atravessamentos que influenciam diretamente as noções de raça e etnia a áreas de pertencimento ou rejeição, estabelecendo assim fronteiras étnico-raciais que inviabilizam solidariedade e harmonia. As regras sociais de comportamento preveem punição para atos de discriminação racial, porém na prática desmobilizam quem quer que venha a tentar uma reação a tais atos de racismo. A apatia revelada por alguns atores sociais negros perante o tratamento desi-
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