44 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 Ao sair do treino de Capoeira Angola no CEVI, em 1996. Três colegas e eu... Certa noite, como de praxe, a polícia nos abordou. Uma viatura parou e desceram três policiais. Um policial de pronto me olhou e disse: Eu te conheço lá dos Coqueiro. Respondi: Acho que tu está me confundindo. Ele retrucou: Eu te conheço Respondi: Mas eu não te conheço Então ele falou alterando a voz e pegando o cassetete: Se eu tô dizendo que te conheço é porque te conheço. Eu concordei: Tudo bem, tu me conhece. O pé-de-porco9 ordenou que eu desse o berimbau na mão de seu colega, ordenou que eu pusesse as mãos na cabeça e falou: Capoeira é coisa de vagabundo. Fiquei quieto. O pé-de-porco posicionou horizontalmente a verga na altura do joelho, puxando-a com as duas mãos, creio eu, na ilusão de quebrá-la. Obviamente, não conseguiu e me perguntou: Quanto tu pagou por esse berimbau? Respondi: Fui eu que fiz. Ele então arremessou o berimbau na altura do meu peito e eu segurei com firmeza. Outro pé-de-porco falou: Eu também sou capoeira. Do grupo tal... Nesse momento me segurei para não o chamar de vagabundo. Então ordenou: Vão indo na de vocês. Uma descrição tensa O título desse capítulo surge inspirado no texto de Clifford Geertz (2008), Uma descrição densa: Por uma teoria interpretativa da cultura. Geertz enfatiza “O homem amarrado a uma teia de significados que ele mesmo teceu”, em uma cultura que hierarquiza e estratifica estruturas e sujeitos que passam a existir de acordo com o padrão de relações sociais estabelecido. 9 Termo usado para referir-se ao soldado da Brigada Militar em Porto Alegre.
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