40 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 que qualquer mestre ou professor de qualquer arte marcial ou dança, qualquer atividade que envolvesse o movimento humano, teria que se filiar ao CREF e fazer um curso na faculdade de Educação Física (um curso preparatório). Eu fui à Bahia procurar os mestres analfabetos, no sentido letrado, por que percebi que aqueles senhores de 60 e 80 anos continuam jogando capoeira com beleza e elegância, não têm problemas de joelho, tornozelo, os alunos deles têm uma saúde estupenda. O CREF precisa preparar o mestre para ensinar e eu disse que onde eu vi mais gente se machucando na minha história foi na Faculdade de Educação Física. Vários acidentes na ginástica olímpica, jogando futebol, enfim, o pessoal todo se machucava. Então pensei, pô, e aqueles mestres lá com seus 80 anos, com aquela saúde, jogando até hoje com seus alunos, estão bem, fisicamente. Até o Mestre Bigodinho, que estava nesse evento, falou: “eu sou analfabeto. Não sei ler nem escrever, mas sei falar”. Quer dizer, ele pode ser professor, pois, logo, sabe ensinar, conclui Professor Renatinho.6 Em sua tese de doutorado, intitulada Por cima do mar eu vim, por cima do mar eu vou voltar: políticas angoleiras em performance na circulação Brasil-França (2010), a antropóloga Heloísa Gravina relata o interesse pela capoeira ao presenciar uma roda de capoeira em Paris. Na época em que “encontrou a capoeira na França”, a autora havia apenas assistido a algumas rodas de capoeira em Porto Alegre sem direcionar muita atenção. O fato de ser brasileira e não possuir familiaridade com a manifestação cultural de seu país provocou-lhe um sentimento de dívida com a sua nacionalidade. Por isso, em seu retorno ao Brasil decidiu pesquisar o universo da capoeira a partir de uma viagem à cidade de Salvador (BA), um lugar apontado como a “Meca da capoeira”, segundo a autora. 6 Entrevista gravada com Professor Renatinho.
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