36 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 ção da pobreza. É desagradável descrever a situação social que revela a fronteira explícita entre os quilombolas urbanos e demais atores sociais que transitavam pelo tribunal com sua pressuposta bagagem farta de capitais culturais e econômicos, expressando indiferença às reivindicações dos manifestantes. Nesse sentido, para além da patrimonialização e folclorização, a capoeira segue sendo um importante modo de expressão sobre a resistência do povo negro e sua luta por dignidade e garantia de direitos. A capoeira e seu processo de reparação Anselmo da Silva Accurso, mais conhecido como Mestre Ratinho, do Grupo de Capoeira Angola Rabo de Arraia, de Porto Alegre, teceu alguns comentários sobre a sua defesa da capoeira enquanto tradição e conhecimento legítimo dos mestres do saber popular em contraponto às investidas de alguns capoeiristas e professores de educação física graduados em universidades que se organizaram junto ao CREF, impondo um curso preparatório para avaliarem a possibilidade de um mestre vir a ter licença para exercer a docência em capoeira. No caso do Brasil, a capoeira enquanto cultura popular simboliza uma cultura de pobreza (outsider). A suposta legitimidade arbitrária do CREF amparando a proposta dos capoeiristas oriundos da universidade (estabelecidos) se caracteriza na hierarquização e prestígio da classe dominante. Isso me leva a associar o fato também à esportivização e ao academicismo elitista imbricado na Luta Regional Baiana (Capoeira Regional) durante o processo de regulação da capoeira, por Getúlio Vargas, após anos de proibição. Mestre Ratinho relata: Sou professor com especialização em Educação Popular pela Unisinos, vim da Educação Física e estou coordenando a ACCARA desde 1995, nós fizemos esse grupo justamente para combater a deturpação da capoeira. Desenvolvo a disciplina de capoeira no curso de Educação Física da
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