A capoeira joga com a dureza da vida

35 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA que venho presenciando demonstrações do efeito de efervescência social que o aprofundamento com a capoeira desperta. A luta pelo direito à moradia é fortalecida através dos treinos e das rodas de Capoeira Angola. A capital do Rio Grande do Sul é marcada pelas dificuldades impostas à população negra, que sobrevive em uma sociedade na qual a classe dominante é predominantemente de origem europeia. A convivência no quilombo me traz a impressão de que os quilombolas vêm desenvolvendo autonomia através da conscientização de sua história em um dado coletivo. O encontro com a Capoeira Angola, enquanto cultura ancestral, fortalece esses sujeitos, despertando a cidadania. Há mais de 20 anos o líder do quilombo pratica Capoeira Angola e afirma que “os jovens que praticam capoeira na comunidade estão no caminho certo”. O líder enfatiza que “a capoeira é o primeiro lance de resistência aqui na nossa comunidade. Foi na capoeira que fui me fortalecendo e, através disso, houve o fortalecimento dentro do meu quilombo, onde sou referência, onde sou liderança”. Ele reitera que a capoeira é um dos pilares para o fortalecimento e resistência de sua comunidade, onde estão presentes no cotidiano os modos de resistência e estratégias de luta desenvolvidas pela Capoeira Angola. Através da observação participante, ampliei o contato com as dinâmicas que envolvem a formação de um capoeirista e suas descobertas. As entrevistas realizadas com esses capoeiristas produzem conhecimento e estabelecem uma aproximação com a conexão de saberes que a capoeira representa e indicam a transformação desses sujeitos em agentes capazes de reverter adversidades sociais que o saber de matriz africana e seus seguidores sofrem ainda hoje. Com entusiasmo, o líder relata que costuma mobilizar a comunidade para marcar presença nas audiências do Tribunal, referentes à situação do reconhecimento de seu direito ao território, tocando seu berimbau e anunciando a data e o horário da audiência. Em uma dessas ocupações no Tribunal, fiquei impressionado com a organização dos quilombolas e percebi meu encontro com uma “performance social agonística”, tal como refere Barth (1969), em relação ao fato de que o protagonista líder do quilombo urbano, tocando seu berimbau e entoando cânticos de capoeira, fazia improvisações poéticas com a temática da marginalização e criminaliza-

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