32 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 à cultura popular, ou seja, uma cultura vulgar, de outra parte reduziu os saberes populares a manifestações fragmentárias e práticas. ACapoeira Regional (Luta Regional Baiana), criada por Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, foi aquela que conquistou a simpatia do Presidente Vargas. Mestre Bimba misturou à capoeira golpes de outras lutas e decidiu levar a capoeira aos ringues. Mestre Bimba ministrou seu curso de capoeira para a polícia, exército e estudantes universitários. Por outro lado, a Capoeira Angola fora adotada e difundida por capoeiristas que reivindicaram a ancestralidade africana da capoeira. A historiadora porto-alegrense Débora Hörle D’Ávila (1998) descentraliza a nível nacional a efervescência da capoeira no centro-nordeste do Brasil, demonstrando que aqui em Porto Alegre muita capoeira acontecia: Os registros se ampliam a partir do século XX. Achylles Porto Alegre (1848-1926), em História popular de Porto Alegre, obra editada somente em 1940, faz menção de existir no século passado, na capital gaúcha, a capoeira com os chamados ‘Tinteiros’ e ‘Bagadús’, que eram grupos formados por rapazes do 3º distrito (atuais bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes e São João) e outros. Esses ‘partidos’ enfrentavam-se em conflitos irreconciliáveis, formando batalhões armados de espada ‘gerivá’ que passeavam pelas ruas, acabando sempre suas arruaças em pancadaria”. E, através do relato de João Baptista Godoy Neto (Mestre Baptista), revela que em Porto Alegre, na década de 1950: “um capoeira teria sido assassinado nas zonas de meretrício da Azenha... um marinheiro que foi para a farra e lá pelas tantas se deu a confusão e ninguém conseguia segurar o homem; chamaram a polícia, o Exército e acabaram matando (D’ÁVILA, 1998, p. 30). Em conversa com Mestre Ratinho ela também registra: “Em 1959, Mestre Canjiquinha, aluno de Mestre Aberrê – que foi aluno de Mestre Pastinha, vem ao Rio Grande do Sul, enviado oficialmente pelo órgão de turismo municipal de Salvador no segundo governo de Juracy Magalhães (D’Ávila, 1998, p. 31). Somente em 1966, Vicente Ferreira Pastinha (Mestre Pastinha) liderou o grupo de Capoeira Angola no Festival de Artes Negras em Dakar (Senegal). Este acontecimento se tornou emblemático por ligar a Capoeira Angola à África. Conforme Achille Mbembe, em A crítica da razão negra (2014):
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