A capoeira joga com a dureza da vida

31 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA Hall (2003), apesar de direcionar seus apontamentos para a situação social dos negros na América Central e no Hemisfério Norte, nos convidam a comparar esse mesmo fenômeno com o contexto brasileiro. Hall nos provoca a questionarmos as periodizações da cultura popular e sua desvalorização e, ao mesmo tempo, a invasão por parte da cultura dominante, ação que vem através do tempo obscurecendo seus valores mais profundos. Em suas “Notas sobre a desconstrução do popular”, Stuart Hall denuncia que através da Longa Marcha para a modernização foi iniciado um processo de “moralização” das classes trabalhadoras e de “desmoralização” dos pobres, estabelecendo assim uma prática de estratificação condicionada pela “reeducação do povo”. Baseado nisso, é possível repensar e notar a oficialização da religião católica no Brasil e a obrigatoriedade do ensino de educação física nas escolas, a educação física como disciplinamento, guiada pelos exercícios físicos das escolas militares. Neste capítulo aponto para dois aspectos em que a capoeira atua na contramão desse disciplinamento estatal, como fortalecimento de identidade e como parte de uma inversão dos sentidos do que seria patrimônio cultural nos anos 2000. Fortalecendo a identidade Mesmo como prática subalternizada, podemos entender as ações do Estado tencionadas por processos de reconhecimento institucional da capoeira durante o Estado Novo; naquele momento, os capoeiristas dividiram-se em duas vertentes: Capoeira Angola e Capoeira Regional. No ano de 1937, o presidente Getúlio Vargas descriminalizou a capoeira, intitulando-a como arte marcial genuinamente brasileira. Considero oportuno problematizar a questão, porque a incorporação da capoeira à identidade nacional fora entremeada à identidade do colonizador; dessa forma, a brasilidade causa um distanciamento da raiz africana a circunscrevendo como mera prática. Acima de tudo, se a identidade nacional se constituiu de forma a hierarquizar os saberes relegando os saberes dos povos tradicionais

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