17 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA Convenhamos, então, que a questão entre ocidentalismo, pós- -colonialismo e debate sobre a decolonialidade ultrapassou representações conceituais locais, indicando uma pluriversalização de saberes. Há de surgir, talvez, uma horizontalidade das representações culturais epistêmicas do mundo, contrapondo, de fato, a constante busca de dominação e afirmação vertical eurocentrada, que tenciona, em um nível de saberes, uma pseudossuperioridade, relegando as demais a um nível de pseudoinferioridade. Assim como relatou Nascimento (1980): Há os que situam as tradições africanas do comunalismo como pertencentes à fase pré-capitalista do desenvolvimento mundial, sendo, portanto, tradições arcaicas e peremptas, só merecedoras de rejeição. Esses que assim raciocinam concluem ainda pela ausência de racionalidade ‘científica’ naquele tipo de economia ‘primitiva’, a qual ocorreria ‘espontaneamente’. Devemos rejeitar tais julgamentos que em geral se revestem ou de uma perspectiva crítica equivocada, de um apriorismo dogmático, de um primarismo ingênuo, ou de uma distorção ideológica maliciosa. Em verdade, a dinâmica intrínseca às culturas tradicionais africanas é um dado que não pode ser subestimado. Todo o conhecimento que se tem dessas culturas demonstra o oposto desse imobilismo que lhe querem impingir, como a própria razão de ser da produção cultural africana: sempre foi plástica, de extraordinária riqueza criativa, sem qualquer noção do que fosse xenofobia. Este é um fato irredutível que ninguém pode deixar de reconhecer. Se houve uma quebra de seu ritmo ou algo como uma parada estática e não progressiva em seu desenvolvimento histórico, isto se deve à submissão pelas armas e por todo um aparato ideológico imposto pelo colonialismo às culturas africanas; não constitui, portanto, um fenômeno de imobilismo inerente a elas (NASCIMENTO, 1980, p. 45). Em trabalho de campo com interlocutores do Grupo de CapoeiraAngola Rabo deArraia, de PortoAlegre, fui convidado a participar, no dia 2 de junho de 2018, do grupo de estudos. O grupo ainda se reúne uma vez por mês para realizar leituras e discussões sobre a temática do racismo e a cultura afro-brasileira. O livro Pensar Nagô, do historiador brasileiro Muniz Sodré (2017), foi um entre outros textos abordados no encontro. Com grande satisfação em contatar a obra de Muniz Sodré através de um movimento cultural autônomo
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