A capoeira joga com a dureza da vida

15 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA quim Felizardo. O objetivo dessa parceria foi intensificar a presença de visitantes negros e não-negros de classe popular aos museus. Ao mesmo tempo, pressionar as instituições acerca da representatividade e do protagonismo negro em espaços de poder e produção de conhecimento. [...] Um museu sobre e para o negro, sobretudo para a sociedade abrangente, deve tratar das questões históricas, sociológicas, artístico-culturais e políticas, no sentido de educação para a cidadania e educação patrimonial levando-se em conta a complexidade da cultura negra (afro-brasileira) e suas dimensões regionais, porém vinculadas às redes sócio- históricas relacionadas com a diáspora africana, sem ficar preso à herança histórico-cultural colonialista de percepção eurocêntrica (BITTENCOURT JUNIOR, 2013, p. 23). No estágio docente durante o curso de mestrado emAntropologia Social tive um encontro com a bibliografia abordada na disciplina Afrodescendência e Cidadania no Brasil Contemporâneo. Foi uma experiência há muito almejada em vivenciar a existência, no espaço universitário, de uma turma de estudantes universitários onde a maioria era composta por pessoas negras, algo bem diverso de minha própria experiência como acadêmico na graduação, em que eu era praticamente único na minha sala de aula ou com um tema visto como exótico em sua abordagem para os demais colegas. Durante o estágio, deparei-me com a condição de porta-voz e pesquisador dos anseios por uma virada acerca da colonização dos saberes no campo científico. Acima de tudo, foi uma potencialização na ênfase à escrita crítica sobre a violência colonial expansiva a partir da modernidade. Encontrava em Nascimento (1980) uma importante referência para animar minhas reflexões: Entretanto, convém insistir neste ponto: as culturas africanas, além de conterem sua intrínseca e valiosa ciência, também oferecem uma variedade de sabedoria necessária, pertinente à nossa existência orgânica e histórica. O mínimo que se pode dizer é que seria um desperdício recusar os fundamentos válidos de nossos ancestrais. Eles são o espírito e a substância do nosso amanhã que os chavões mecânicos europeus e americanos não quiseram ou não foram capazes de construir para as massas africanas do continente e da diáspora (NASCIMENTO, 1980, p. 46).

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