133 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA dos seus inúmeros encontros e do que ali ocorre. Ao finalizar esse trabalho, quero enfatizar que a rede de capoeiristas não pode mais ser visualizada como uma margem, mas como algo que tem seus fundamentos transmitidos, seu axé vivenciado através de seus praticantes em inúmeras conexões entre capoeiristas. Reconheço que muitas vivências e depoimentos de capoeiristas não tiveram espaço nesta narrativa inicial. Entretanto acredito no reconhecimento por grande parte dos admiradores da capoeira ao lerem e divulgarem este trabalho que exalta a potência da capoeira na vida. Através de minha experiência como capoeirista, encontrei capoeiristas que rejeitam o encontro do saber negro e popular com o saber acadêmico. Respeito esse ponto de vista; não por acaso, iniciei este trabalho apontando críticas acerca das lacunas geradas pela invisibilidade dos saberes tradicionais negros em sua participação no estabelecimento do conhecimento científico moderno. Ainda assim, busquei elucidar as ações afirmativas e sua preciosidade enquanto transformação epistêmica, docente e discente. O Afoxé Amigos de Katendê no Centro Cultural se torna um exemplo de que a UFRGS abre na medida do controle. Portanto, a performance agonística se mostra constante, a superação almejada nesse jogo é de que o agonístico seja para superar as barreiras da discriminação estrutural e não para destruir o outro, pois, a meu ver, o espaço e reconhecimento no âmbito universitário tende a se expandir por se tratar de um público que ginga e produz conhecimento primeiro pela sua corporeidade. Na condição de primeiro cotista negro no mestrado do PPGAS/UFRGS, sinto-me fortalecido por realizar essa travessia no “mar revolto”. Creio que ainda serão realizadas “muitas rodas e jogos” no que tange aos questionamentos acerca do papel da universidade em analisar as ações afirmativas, não se limitando à reserva de vagas, mas, acima de tudo, proporcionando um pensamento e uma produção científica, de fato, universalizante. A antropologia pode ser um estudo e produção de conhecimento para quem já domina o campo e, sem dúvida, a mesma potencializa o encontro de fatos relevantes para o horizonte científico. Iê, mundo dá volta, camará.
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