131 A CAPOEIRA JOGA COM A DUREZA DA VIDA CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos capítulos aqui apresentados, evidenciei a capoeira e seu poder de enunciação de uma experiência ancestral negra que se projeta no presente impactando comunidades, revelando mestres e saberes e as redes de relações na qual a capoeira se movimenta e está sempre interagindo no presente: crianças, mães, comunidades, mestres, fazem o jogo à sua maneira, jogam e se utilizam da capoeira on-line e off-line. Demonstrei que é impossível encapsular a capoeira “na periferia”, objetivando levar a perceber-se que a periferia, tão enunciada como uma margem, se movimenta em vários lugares da cidade e o faz com a capoeira e através dela. Talvez por isso não seja possível fazer um trabalho antropológico de inspiração Malinowskiana, como se a capoeira estivesse em uma ilha, mas que mesmo Malinowski (1975) evoca um arquipélago com conexões, como na capoeira, conexões e novos territórios a serem incorporados como espaços de circulação por parte de seus praticantes. Apresentei descrições do Quilombo dos Machado e algumas de suas práticas cotidianas que envolvem desde a resistência à discriminação generalizante entre pobreza e criminalidade que culminam na exclusão social frente à injúria racial. Sendo assim, conecto a capoeira no Brasil como modo de resistência, desde as formas de sua marginalização histórica até a recente institucionalização que veio a consolidá-la enquanto patrimônio imaterial da humanidade no início do século XXI. Quanto à direta relação com o racismo historicamente marcado perante a perseguição e intolerância religiosa ao Candomblé, como destaquei no primeiro capítulo, busquei apresentar a luminosa passagem de Mestre Môa do Katendê, que nos trouxe o afoxé, enquanto folguedo,46 oriundo da Nação Ijexá e desenvolvido, tradicionalmente, no ritual religioso do Candomblé. 46 Brincadeira; ação de dançar, de tocar instrumentos, de se entreter, de se divertir.
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