114 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 eu não levo qualquer um. Tu vai ter que guardar segredo e manter respeito’.35 Perguntei: Quando tu começaste a fazer tambor? “Eu sempre fui umbandista. Minha mãe me levava já desde a barriga na terreira. A primeira terreira que eu frequentei era a Cabocla Jurema”. Nesse momento, um carro freia bruscamente e o motoristafala em voz alta: “Ô, meu, tu tem broca 8 mm de madeira?”. Cássio Tambor responde: “Ô, meu, entra lá. Toma aqui a chave e pega na gavetinha da estante branca à esquerda. Esse é meu irmão, nos criamos juntos”, me disse, ele apontando para o motorista do carro. E retoma a narrativa: Então, eu sempre fui umbandista, desde pequeno já escutava aquele barulho do tambor. Isso ali na Vila São José, do lado da Tuca, a primeira Terreira. A segunda Terreira vim conhecer aos 14 anos, em Viamão, na Parada 51 de Viamão, na Querência. Ali tinha o processo de todo o ano tu vai na praia. Faz uma homenagem para Iemanjá, todo o ano tu faz uma homenagem a Oxum, e todo o ano tu vai na mata também. Nesse ir na mata, nós ia aqui no Parque Saint’Hilaire onde existe o Recanto dos Orixás desde os anos 60/70. Porque muitas terreiras saíram de Porto Alegre quando Porto Alegre se desenvolveu nessa época e vieram para Viamão.36 Quanto à retirada das terreiras da capital para cidades vizinhas da região metropolitana, me sinto instigado a estabelecer a relação entre o racismo no viés religioso e habitacional. De acordo com D’Ávila (1998): As localidades habitadas por negros eram consideradas muito perigosas e deveriam sofrer uma reorganização habi35 Entrevista gravada com Cássio Tambor. 36 Entrevista gravada com Cássio Tambor.
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