112 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 Então, ao completar 16 anos, Cássio Tambor conta que sua mãe consentiu que ele iniciasse sua prática de capoeira, mas em academias. A meu ver, eis um exemplo da influência do multiculturalismo que se apropria da capoeira como produto e deixa de ver vários aspectos que motivam os capoeiristas no seu presente e no seu contexto de redes de relações que, em alguns aspectos, foram confinadas à subjetividade, ao local privado de socialização e a algumas distinções contrastantes que eram reproduzidas entre as pessoas nos espaços públicos. Encontrei, na Rua 7 de Setembro, o Gato Preto. Ele tinha uns dreads e treinei uns quatro meses com ele. Aí eu conheci as rodas do Gato Preto na rua e quando chegava aquele ‘enxame’ de gurizada de rua na roda da Rua da Praia, bah, aí que dava o axé na roda! Os guris pulavam e faziam várias acrobacias dentro da roda e jogavam muito mais que os guris que treinavam dentro da academia. Eu via que os guris usavam a capoeira como se fosse a alma deles, o alimento deles, aí eu sempre tive isso como um exemplo e escolhi, já que sou pobre, de família humilde, vou usar isso também. Essa coisa de cativar, de poder fazer essas coisas mirabolantes, já que me cativou, se eu fizer, vou cativar outras pessoas. E aí se confirmou que era o Churrasco que dava aula para aquela galera ali de rua. Aí descobri que no Gasômetro todas as sextas-feiras rolava um trabalho com esse pessoal de rua com o Churrasco e o irmão dele, o Bartelemi (irmão do Mestre Churrasco). Amelhor capoeira que eu vi até hoje em Porto Alegre foi na época que esses caras davam aula ali.34 Cássio Tambor revela com extrema felicidade ser um dos poucos caras que conhecem e sabem onde é o santuário em que o, confor34 Entrevista gravada com Cássio Tambor.
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