106 SÉRIE SABERES TRADICIONAIS – VOL. 4 cadeira’ – outra denominação da capoeira, e a ‘cabeçada’, movimento típico da capoeira, mostra que a mesma, assim como aparece em Salvador, no Rio de Janeiro, em Recife, em São Paulo e outros estados do Brasil, também esteve presente no Rio Grande do Sul ainda no século passado (D’ÁVILA, 1998, p. 28). Durante o mês de outubro de 2018, em uma aula do Mestre Churrasco, na disciplina da UFRGS “Encontro de Saberes”, ele falou sobre a capoeira em meados da década de 1970. Ele era engraxate na Praça da Alfândega do centro de Porto alegre e andava com sua caixa. Contou que a capoeira era praticamente cabeçada e rasteira, estrelinha, enfim, que não tinha uma capoeira com tantos movimentos e que o pessoal se encontrava mesmo era para brigar. Ele ficava na região da Igreja das Dores e jovens que se concentravam em diferentes regiões do Centro de Porto Alegre marcavam de resolver as suas diferenças na beira do Lago Guaíba, na Usina do Gasômetro, através da capoeira. Então ele diz que “era muita capoeira, muita cabeçada e isso era a capoeira”. Então, nesse período, ele conheceu um caminhoneiro chamado “Cau”, que começou a ensinar alguns movimentos de Capoeira Angola para ele e ele foi se tornando um dos precursores da Capoeira Angola em Porto Alegre. Em uma aula da disciplina de graduação Encontro de Saberes, oferecida na UFRGS e que fora ministrada no matagal do Campus do Vale, Mestre Churrasco ensinou movimentos de capoeira, dando ênfase à atenção ao cenário bem diferente das ruas da cidade ou academias. Ele disse: “Tem que ter cuidado e atenção aí perto das pedras, porque as cobras gostam de se esconder embaixo das pedras. No mais, elas sempre se afastam da gente se a gente está meio distante e não oferecendo perigo a elas”. Sobre o ensino de capoeira no matagal, ele relatou que um dia subiu em uma pedra no mato do Morro Santana e se sentiu bem. Percebeu que poderia fazer alguns movimentos de capoeira naquela pedra e então passou a fazer treinos no mato e sentir a capoeira ao desempenhar a “mobilidade no matagal”, lembrando que nos “quilombos, durante as fugas das senzalas, os negros revoltados corriam descalços pelos espinhos, lutavam e desarmavam capitães do mato sem ferramenta alguma”, diz ele. Por isso, ele contara que não usava
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