292 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica mas macro. Essa foi a trajetória metodológica do autor. Esse comportamento permitiu entender o porquê de o fortalecimento da escravidão e do Estado estarem conectados à economia mundo e, principalmente, o quanto a história dos indivíduos e suas redes conferem mais sentido à história total. *** A utilização do microscópio enquanto metáfora nada mais é que a aproximação do olhar para captar um traço, uma singularidade ou um comportamento que, em um olhar distante poderiam escapar. Uma pesquisa com essa proposta metodológica deve ser aquela também desvencilhada de qualquer preocupação com a captação de comportamentos uniformes e tampouco de uma hierarquização do menor para o maior. Com a variação das escalas, que se concretiza pela utilização de distintas fontes, emergem as diferentes instâncias de percepção, as brechas, as contradições e as irregularidades (Ginzburg, 2006, p. 267; Levi, 1991). A esse procedimento de pesquisa se devem somar outras preocupações próprias também da Micro-História. Se a fonte consultada pode gerar uma instância de percepção, a escolha dela atinge uma enorme centralidade e pode definir os rumos da investigação proposta. É esta a exortação das falas e textos de Giovanni Levi nos dias de hoje, que mais se aproxima de uma dimensão política do método. O foco na história daqueles que produziram menos documentos, como as mulheres, os desafortunados e as minorias, pode enriquecer a compreensão dos mundos relacionais. Se realmente a Micro-História consegue se articular à perspectiva macro, tal como defendida pelos historiadores acima, considero ainda, mesmo com os atuais esforços, um grande desafio para nós historiadores. Referências BLACKBURN, Robin. “Por que segunda escravidão?” In: MARQUESE, R & SALLES, R. Escravidão e capitalismo histórico no século XIX – Cuba, Brasil e Estados Unidos. RJ: Civilização Brasileira, 2016. CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte . SP: Cia das Letras, 1990.
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