290 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica soaram no Brasil. Ressalta que os trabalhos mais bem-sucedidos “foram aqueles que conseguiram traçar nexos entre essas vivências e os sistemas normativos, trazendo reflexões mais amplas sobre a sociedade em questão”. A autora é enfática ao defender que a chave da compreensão das interações entre as diferentes perspectivas reside no jogo de escalas. Até esse momento, toda a construção do texto conflui para as interfaces e conexões em pensar o conceito de segunda escravidão e operar com a metodologia da Micro-História. Na terceira parte do ensaio, a autora nomeia sua reflexão como “Construindo Pontes”, nos levando a entender que a tessitura dessa interação deve passar por uma ressignificação das diferentes possibilidades de leitura dos conceitos. No meu entender, nessa parte, a autora realiza uma outra inflexão e realiza um excelente trabalho ao analisar a historicidade do conceito de segunda escravidão e como foi construída a intercessão entre as duas perspectivas metodológicas que remetem ao que Giovanni Levi critica como aMicroglobal History ou de Global Micro History (Oliveira, 2017) Para Tomich a relação entre os grupos sociais, em distintas posições na hierarquia social deveriam ser percebidos dentro do horizonte de possibilidades e orientado para as grandes transformações econômicas (Tomich, 2011, p. 96). Para os autores, a longa duração surgiria das relações entre o micro e o macro para a elaboração de uma “história mundial da perspectiva do indivíduo”. Nesse momento, Muaze se descola da reflexão proposta e questiona se de fato o resultado final deva ser necessariamente a construção de uma história mundial ou global . Recupera a crítica de G. Levi quando este denuncia a nova roupagem do eurocentrismo que estaria por trás da discussão da segunda escravidão, ao invés de uma totalidade policêntrica. (Oliveira, 2017). A autora reafirma a importância fundamental dos jogos de escalas para ambos os lados, quando a Micro-História contribui para o estudo das estruturas e quando a história global desce ao terreno da experiência cotidiana e dos indivíduos. A meu ver este ainda se constitui um desafio da investigação histórica contemporânea. O terceiro texto, de Thiago Campos, imbuído da proposta da mesa de discutir a (in)compatibilidade daGlobal History com os métodos da Micro-História, caracteriza-se por sair de uma análise metodológica e ensaística para adentrar no terreno da investigação empírica. Desta forma, consegue aliar suas reflexões à investigação, materializando o quanto que os procedimentos de redução de escala permitem a construção de uma perspectiva global.
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz