A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em perspectiva histórica

288 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica reativas aos Annales e Marxismo, a saber: a história agrária da Universidade Federal Fluminense e a história social da Unicamp. Questiono se essa perspectiva europeizante, pano de fundo do conceito de segunda escravidão, tinha sido realmente rechaçada pela historiografia brasileira dos anos 1990. No que se refere à escravidão, metodologicamente, ainda continuaram muito próximos da clássica história quantitativa, dos agregados anônimos e, principalmente, da preocupação com as regularidades e busca de comportamentos sistêmicos. No meu entender, naquele momento, a “equalização dos indivíduos” (Ginzburg, 1993) ainda estava em marcha. No entanto, considero que para esses historiadores, a economia mundo perdeu sua centralidade e foi substituída por uma outra referência, também macro: o escravismo brasileiro – palco de diversas disputas conceituais. Os autores brasileiros das escolas UFF e UNICAMP voltavam-se para dentro, enquanto Dale Tomich situava o escravismo brasileiro no bojo das transformações do capitalismo da Era Industrial. Opostas? A meu ver não, simplesmente complementares. Nos anos subsequentes, a riqueza dos trabalhos acerca do mercado interno colonial, as pequenas escravarias e a concomitância da pequena propriedade às plantations , maior em número, mas não em dimensão e produção de riqueza, contudo dinâmicas e articuladas de diferentes formas ao mercado, se multiplicavam, descortinando nossas diferenças, mesmo em um contexto de economia mundo. Até esse momento, a perspectiva centrada no indivíduo já havia sido fundada na Itália, mas não havia impactado no Brasil. Na década de 1990, a revista Quaderni Storici, berço da Micro-História, já estava se consolidando enquanto resposta à falência das perspectivas teóricas baseadas no fato político e da história das instituições, conjugadas ao engajamento político. A revista reunia pesquisadores interessados em propor “experimentações” monográficas que buscassem alternativas para a situação de crise historiográfica da Itália (Lima, 2006). Em resumo, a entrada da perspectiva da Micro-História no Brasil demoraria a romper os limites do mercado editorial, em uma época em que a internet ainda não havia superado as barreiras do tempo e espaço. Na esteira das publicações das obras de Carlo Ginzburg, a tradução do Herança Imaterial em francês (Levi, 1989), e logo depois, em espanhol e português (Levi, 2000) introduziria a discussão na academia brasileira, aprofundado posteriormente pelo primoroso trabalho de Henrique Espada Lima (Lima, 2006). Naqueles anos, uma profunda dúvida afligia os ânimos dos historiadores que se perguntavam: Seria possível fazer Micro-História no Brasil, com seus arquivos falhos e incompletos? Para J. Fragoso, a fragilidade dos

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