284 A Segunda Escravidão e o Império do Brasil em Perspectiva Histórica integração constituem o grande ponto de interesse da abordagem. Com isso, evita-se o determinismo e salientam-se os mútuos e múltiplos condicionamentos que as evidências demonstrarem. O procedimento sugerido, essa microcomparação incorporada , adequa-se e completa a noção de tempo estrutural (combinação de longa duração e conjuntura) com a qual Tomich dialoga. Articulando-se aos moldes da microanálise, ele supõe a inclusão da dimensão de curto prazo e das vivências individuais, e, ao mesmo tempo, faculta o exame de práticas, tradições, usos e costumes locais longevos, em termos de sua reprodução, ressignificação ou transformação. É como uma espécie de ampliação, para além do campo da cultura, da noção de “reavaliação funcional de categorias”, formulada por Marshall Sahlins, que se refere precisamente à forma como o contexto imediato se articula a estruturas culturais pregressas e, por isso, traz diacronia e sincronia para o centro da análise (Sahlins, 1990, p. 10-15). Terminando esta breve reflexão com a metáfora de Quetzalcoatl, que remete a uma cultura que nutria uma concepção de tempo pendular, ou circular, a depender da interpretação, é preciso reconhecer o sentimento de retorno ao antigo ensejado por este debate. Não só pela referência ao macro, mas pelo próprio discurso do imperativo de uma via de mão dupla entre o acontecimento e a estrutura, entre o geral e o particular. Talvez, apenas agora, a sua concretização seja possível. Referências BARROSO, Daniel Souza; LAURINDO JUNIOR, Luiz Carlos. À margem da segunda escravidão? A dinâmica da escravidão no vale amazônico nos quadros da economia-mundo capitalista. Revista Tempo , Niterói, v. 23, n. 3, p. 568-588, set./dez. 2017. BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, Economia e Capitalismo, séculos XV- -XVIII, v.1, As estruturas do cotidiano: o possível e o impossível. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 11-14. CHALHOUB, Sidney. A força da escravidão: ilegalidade e costume no Brasil oitocentista. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 43. CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade : uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo. O arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil em uma economia co-
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